Nas últimas eleições autárquicas em Coimbra, em 2009, verificou-se a mais curta diferença de sempre entre aqueles que votaram num partido político (ou coligação) e os que não quiseram escolher qualquer candidato. Essa diferença foi de 8.496 eleitores, num total de 127.622 cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais; ou seja, menos de 7%.
O crescente desencanto com a prática dos principais partidos pode levar a que, depois de amanhã, o número dos que não escolhem seja, pela primeira vez, superior ao daqueles que votam num qualquer candidato. No entanto, as “autárquicas” não serão a ocasião mais fiável para avaliar do desinteresse dos cidadãos pelos actos eleitorais, dada a proximidade existente entre quem vota e quem é eleito.
A análise dos resultados das eleições no concelho de Coimbra permite ainda verificar que o maior número dos que não escolheram (abstencionistas e os que votaram nulo ou em branco) se verificou em 1997, quando 60.280 eleitores não participaram na última das três vitórias consecutivas de Manuel Machado.
Por outro lado, a maior participação ocorreu em 2001 (primeiro dos três triunfos de Carlos Encarnação), quando 72.678 votantes escolheram um dos candidatos.
Coimbra: quem escolhe e quem não escolhe ao longo de 37 anos |
No domingo à noite se saberá se, desta vez, os que não escolhem são em maior número, ou não, do que aqueles que expressam uma vontade inequívoca.
A análise, no entanto, não será fácil, já que os eleitores tendem a ter um “comportamento errante” nas eleições autárquicas. Há cidadãos que votam em “cores” diferentes consoante se trate da junta de freguesia, da câmara ou da assembleia municipal. E há, igualmente, os que votam no “seu” candidato e se abstêm nos restantes órgãos.
Dada a especificidade das “autárquicas”, não parece razoável que se retirem “conclusões nacionais” de uma eleição que é local. Como também não se entende o frenesim dos principais dirigentes partidários, que correram o país a enviar recados uns aos outros, esquecendo os problemas concretos que se colocam às diferentes comunidades locais.
O comportamento de Passos, Seguro, Portas, Jerónimo e Catarina constituiu, afinal, um insulto ao poder local. E, consequentemente, a todos os eleitores, contribuindo deste modo para o crescente desprestígio da prática política em Portugal.