I
Manuel Machado é o presidente eleito com menor percentagem de votos em relação ao número de eleitores: 17,5%. Por outras palavras: o candidato socialista vai dirigir um concelho em que 82,5% dos eleitores não votaram nele.
II
Pela primeira vez, o número dos que NÃO ESCOLHERAM (abstencionistas e votantes em branco e nulo) foi superior ao dos que escolheram.
Escolheram um candidato 58.506, não escolheram 70.554: uma diferença de 12.048 cidadãos.
III
Manuel Machado e Barbosa de Melo obtiveram mais votos do que as respectivas listas para a Assembleia Municipal. Nos outros casos, foi ao contrário: CDU, Cidadãos Por Coimbra e CDS registaram melhores votações para a Assembleia. Os votos brancos e nulos também foram em número superior na eleição dos deputados municipais.
IV
Manuel Machado, o vencedor, registou aquela que será a pior das vitórias. Pela primeira vez, terá de governar o concelho em minoria. Aliás, até ontem o PS tinha governado sempre Coimbra com maioria absoluta (1976, 1982, 1989, 1993 e 1997). A situação é pois novidade absoluta para os socialistas.
V
Barbosa de Melo teve pela frente uma missão impossível, depois da ruptura da coligação com o CDS. Apesar do empenho do candidato, o resultado eleitoral ficou traçado nesse momento. A esta situação acrescem outras situações penalizadoras para o PSD: o abandono de Carlos Encarnação, pouco depois de eleito, fez perder votos aos social-democratas; a queixa contra os Cidadãos Por Coimbra, devido à utilização da expressão “Por Coimbra”, foi outro “tiro no pé”; e, finalmente, a política de alcatroamentos em vésperas das eleições também jogou contra Barbosa de Melo. A tudo isto juntou-se a conjuntura política nacional, que mostra um PSD sem rumo e a aplicar medidas de dureza extrema aos sectores mais desfavorecidos da sociedade. Foram muitos factores negativos para uma única candidatura.
VI
Só quem não conhece a “história política” de Coimbra é que pode mandar alcatroar artérias da cidade em vésperas de actos eleitorais. Com comportamentos semelhantes, o PSD perdeu as eleições de 1982 e Manuel Machado foi derrotado em 2001. O cidadão não gosta de ser tratado como “ludibriável” com obras de última hora e castiga quem o faz. Por outro lado, é minha convicção que o voto da grande maioria dos eleitores está definido muito antes da data do acto eleitoral, pelo que os “alcatroamentos de última hora” só podem ter consequências negativas. (E ao lado dos alcatroamentos podem colocar-se outro tipo de decisões semelhantes. Por exemplo, os “relógios” colocados junto de alguns semáforos transmitem uma ideia de novo-riquismo nada consentânea com a realidade de país. São úteis? De alguma forma. Valem o investimento? Claro que não.)
VII
A votação obtida pelas listas lideradas por Manuel Machado foi, sucessivamente, a seguinte:
32.143 (em 1989) – 40.014 (em 1993) – 33.950 (em 1997) – 22.512 (em 2001, quando perdeu) – 22.631 (2013).
A votação da Coligação Por Coimbra para a Câmara Municipal foi a seguinte:
38.335 (em 2001) – 31.752 (em 2005) – 29.357 (em 2009) – 18.946 (em 2013).
VIII
Grande derrotado das eleições de ontem foi o CDS, partido que nunca teve grande expressão eleitoral no concelho. O candidato centrista não terá aceite o quinto lugar na lista da Coligação Por Coimbra, preferindo concorrer sozinho. Os resultados mostram que a decisão foi errada e que o lugar proposto correspondia à expressão eleitoral dos centristas no concelho.
Luís Providência terá incorrido no erro de pensar que a sua acção na área do Desporto (meritória nuns casos, gastadora noutros) lhe garantiria a eleição. Equivocou-se. O Desporto não tem o “peso político” que os adeptos normalmente lhe atribuem.
(Três breves reflexões, a propósito… Durante anos, em Coimbra, ouvi defender a ideia de que o melhor caminho para chegar à presidência da Câmara era ser, antes, presidente da Académica. Sempre combati esta ideia. E um dia, Fernando Mendes Silva veio de alguma forma dar-me razão: ele foi presidente da Académica, mas DEPOIS de ter estado à frente da autarquia. Por outro lado, o percurso de Rui Rio no Porto também é emblemático da capacidade dos eleitores de distinguirem Política e Desporto. Finalmente, e por muito que me custe escrever isto, o futebol da Académica tem hoje expressão muito reduzida no tecido social de Coimbra. Basta atentar no número de espectadores aos jogos em Coimbra.)
IX
Opinião pessoal formada há várias semanas: a única campanha que verdadeiramente existiu foi a dos Cidadãos Por Coimbra, com a realização de múltiplas iniciativas visando o debate de ideias e o esclarecimento dos eleitores. A prejudicar o resultado eleitoral dos Cidadãos Por Coimbra esteve, creio, a “colagem” ao Bloco de Esquerda, que terá afastado eleitores da área da Direita.
As outras campanhas, de uma forma geral, limitaram-se a repetir modelos já gastos e de que os conimbricenses crescentemente se afastam.
(Atente-se nos números da abstenção, algo que deverá preocupar em primeiro lugar os partidos políticos, eles que são – ou deveriam ser – a expressão política organizada da sociedade.)
X
Lamento: durante a campanha eleitoral completou-se um ano sobre o falecimento de Luiz Goes, a voz maior do Fado de Coimbra. Não vi nenhuma referência; se existiu, passou despercebida. No entanto, assinalaram-se outras datas com importância nula para Coimbra ou de expressão bem mais reduzida.
XI
Números…
Dois quadros que permitem várias leituras.