Meu Caro,
Avistámo-nos esta manhã, em Coimbra, para me dares a conhecer a tua obra académica, afinal sobre a imprensa de Coimbra e o nosso Mestre Urbano Duarte. Sei que te valeu um 18 e, por isso, estás de parabéns… Participei com um modesto texto, recordativo e marcante. E quer queiras ou não, esse teu trabalho de compilação estudiosa e de pesquisa, vai perdurar como mais um marco histórico de uma Cidade, de uma Região e de um País que um Urbano de um Pescanseco perdido nos meios da Pampilhosa da Serra teve a amabilidade de descrever num português escorreito, magnífico e, as mais das vezes, sensato, popular, sério, frontal, piedoso e cândido.
Alinhavo aqui… prega acolá, num desalinho de “casas” com assuntos nossos e de uma Coimbra que, como tu, me provoca saudosismos, nostalgias, recordações, apegos, alegrias e desilusões… lá desfiámos o “terço” dos nossos dias de aperto de permanência…
E, dando caminho ao teu anúncio deste blogue, abreviei o tempo para o pesquisar e me situar no seu âmago.
Bendita a tua predisposição para continuares a denunciar jogos e jogadas, fintas e passes, imprecisões e embustes, baralhos e cartadas, peões e mascotes, poderosos e barões, alfinetadas e agulheiros, eloquentes e displicentes, covardes e caciques, vendedores e vendilhões, pobres e esfomeados, compadres e comparsas, muletas e amuletos, sapateiros e alcoviteiros, safados e espertalhões, politiqueiros e feiticeiros, padrinhos e afilhados, simpatizantes e filiados, medíocres e aprendizes, maçons e assalariados, mosqueteiros e senhores feudais e tanta outra gente que, nestas últimas três décadas, se tem servido da nossa pobre Coimbra e da nossa amarrotada Pátria. Saberás, por ventura, dizer-me para onde caminha a nossa Cidade que volta a ter o mesmo “pastor” que já lhe deu “cajado” 12 anos atrás ? Saberás, e por ventura, esclarecer-me para onde poderemos ir sem sermos espezinhados por essa gentalha da nossa governação que nos escraviza e nos mastiga sem piedade e sem dó ?
Falta-nos gente com sabores a Urbano; falta-nos gente com coragem, como ele, para nos ensinar a reflectir; falta-nos gente, como ele, que não deixava que a canga o fizesse dobrar; falta-nos gente, como ele, para denunciar sem temores; falta-nos gente, como ele, com fé, vontades, palavra, sensatez, honradez, seriedade, objectividade, verdade, missão, espírito e lucidez… para conseguirmos apear vendilhões de um tempo, de um País, de uma Cidade e de uma Cidadania…
E, apesar de tanta “guerra” que soubeste conquistar, enquanto arauto da liberdade e da verdade e, também, de tanto safado que, inquietado com as tuas palavras, não as soube encaixar, ainda reúnes talento e vontade para, desta tua “varanda” de verdades, deixares recados e luz sobre temas que precisam de palavras desafrontadas de maquinações de turmas de uns Pilatos que só sabem “lavar” mãos sem cuidarem de aprender a “lavar” pés…
Sabes, Mário, apetece-me viajar no tempo para alcançar tempos de paz, de alegrias, de sensatez, de felicidade e de luz que nos permitam doarmo-nos aos outros que acabam por ser menos gente, menos Homens, menos Cidadãos, menos portugueses e menos tudo…
Parabéns por este blogue que nos obriga a pensar, a reflectir, a ler e renegar uma recta final sem glória e sem participação.
Estarei atento para festejar e para, se for caso disso, deixar a minha inquietante mas “inválida” opinião…
Para a frente e sê arauto da liberdade e da “urbanidade”…
António B. Martins
(4/10/2013)
(NOTA: O António foi colega de Liceu, começámos praticamente ao mesmo tempo a escrever no “Correio de Coimbra”, fundámos o Clube da Comunicação Social de Coimbra em meados da década de 80. As “esquinas da vida”, depois, separaram-nos durante bons 20 anos. Reencontrámo-nos agora, no início de 2013, por “culpa” de Urbano Duarte.)