18 C
Coimbra
Terça-feira, 6 Junho, 2023
InícioGERALO frigorífico da Filomena

O frigorífico da Filomena

Andavam cansados. Ele e ela.

A ele sobravam-lhe os anos, a ela minguava-lhe o salário.
E assim foram vivendo, suportando-se mutuamente.
Um dia, porém, ela tomou a decisão inevitável: tinham de separar-se. Ele já não cumpria a função, volta e meia deixava de funcionar e, por escassos que fossem os euros, era necessário reformá-lo.
Foi assim que, depois de meses e meses de indecisão, a Filomena concluiu que tinha de comprar um frigorífico novo.
Foi à loja e disse o que queria: duas zonas, arca congeladora e frigorífico no mesmo aparelho. Levava até a preferência por determinada marca. Olhou, olhou, mas não viu o que pretendia.
O funcionário, simpático e disponível, disse-lhe que podia escolher por catálogo, que no prazo de uns quatro dias, uma semana no máximo, o frigorífico estaria em casa dela.
Assim fez. Abriu o livro, largo de folhas e repleto de fotografias, viu, viu e… escolheu. Era mesmo aquele, o da página 15, que ela queria. Acertaram a compra, o preço, o pagamento em prestações. E ela pagou logo a primeira, cerca de metade do valor do aparelho.
Uns dias depois, bateram-lhe à porta. Era o frigorífico. Chegara o momento da troca: levar o velho, usado por mais de 20 anos, e instalar o novo.
Mal romperam a embalagem, Filomena [é dela que estou a escrever] viu que não era aquele o modelo escolhido. Quem sim, que era, disseram os dois homens que tinham carregado o frigorífico escadas acima. Que não, teimava ela, factura de compra na mão, a comparar o número do modelo que constava no papel com o que estava escrito numa placa nas costas do aparelho.
Os dois homens telefonaram para a loja. Falaram. Ela também foi ao telefone. «Ou me trazem o aparelho que eu escolhi e já comecei a pagar, ou não há negócio!», garantiu, determinada. Do lado de lá diziam-lhe que este modelo era novo, melhor do que o outro, com mais funcionalidades e tudo. Mas ela não cedeu: ou era o frigorífico que tinha escolhido ou não seria nenhum outro. Só queria aquele. E acrescentou que estavam a tentar enganá-la, a vender-lhe gato por lebre.
Os dois homens lá tiveram voltar a carregar o frigorífico novo, escadas abaixo, de regresso à loja. Sem vontade, mas também sem outra alternativa, perante a firmeza de Filomena. E prometeram voltar no prazo de dois, três dias.
Assim aconteceu. Regressaram na terça-feira seguinte, então sim com o tal frigorífico, o que ela escolhera. Instalaram o aparelho novo e levaram o velho. O negócio, finalmente, concretizara-se: ela escolhera determinado produto e o que lhe entregaram correspondia ao que tinha escolhido. Estava desfeito o engano, cumprira-se o contrato.
Nessa noite, sentada no sofá, a descansar de mais um dia de canseiras, tantas!, Filomena deu consigo a filosofar: «Assunto encerrado, este do frigorífico. Em duas semanas tudo se resolveu. Fosse assim na Política!… Nesta, votamos num partido que promete não aumentar impostos, ele ganha, chega ao poder e faz o contrário, e quando nós reclamamos e pedimos que cumpra o prometido, dizem-nos para esperar pelas próximas eleições, para esperar quatro anos. O negócio dos frigoríficos, afinal, é mais sério do que a Política».
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Célia Franco on Redacção da TSF ocupada
Maria da Conceição de Oliveira on Liceu D. Maria: reencontro 40 anos depois
maria fernanda martins correia on Água em Coimbra 54% mais cara do que em Lisboa
Eduardo Varandas on Conversas [Vasco Francisco]
Emília Trindade on Um nascimento atribulado
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
José da Conceição Taborda on João Silva
Cristina Figueiredo on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria Emília Seabra on Registos – I [Eduardo Aroso]
São Romeiro on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria do Rosário Portugal on Ricardo Castanheira é suspenso e abandona PS
M Conceição Rosa on Quando a filha escreve no jornal…
José Maria Carvalho Ferreira on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria Isabel Teixeira Gomes on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria de Fátima Martins on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
margarida Pedroso de lima on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
Manuel Henrique Saraiva on Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Armando Manuel Silvério Colaço on Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria de Fátima Pedroso Barata Feio Sariva on Encarnação inaugurou Coreto com mais de 100 anos
Isabel Hernandez on Lembram-se do… Viegas?
Maria Teresa Freire Oliveira on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Teresa Freire Oliveira on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Madalena >Ferreira de Castro on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on INSÓLITO / Tacho na sessão da Câmara de Miranda
Ermenilde F.C.Cipriano on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on De onde sou, sempre serei
Carlos Santos on Revolta de um professor
Eduardo Varandas on De onde sou, sempre serei
Norberto Pires on Indignidade [Norberto Pires]
Luis Miguel on Revolta de um professor
Fernando José Pinto Seixas on Indignidade [Norberto Pires]
Olga Rodrigues on De onde sou, sempre serei
Eduardo Saraiva on Pergunta inquietante
mritasoares@hotmail.com on Hoje há poesia (15h00) na Casa da Cultura
Eduardo Varandas on Caricatura 3 (por Victor Costa)
Maria do Carmo Neves on FERREIRA FERNANDES sobre Sócrates
Maria Madalena Ferreira de Castro on Revalidar a carta de condução
Eduardo Saraiva on Eusébio faleceu de madrugada
Luís Pinheiro on No Café Montanha
Maria Madalena Ferreira de Castro on Eusébio faleceu de madrugada
José Maria Carvalho Ferreira on José Basílio Simões no “Expresso”
Maria Madalena Ferreira de Castro on Carta de Lisboa
Manuel Fernandes on No Café Montanha
Rosário Portugal on Desabamento na Estrada de Eiras
manuel xarepe on No Café Montanha
Jorge Antunes on Mataram-me a freguesia
António Conchilha Santos on Nota de abertura
Herminio Ferreira Rico on Ideias e idiotas!
José Reis on Nota de abertura
Eduardo Varandas on Caricatura
Eduardo Varandas on Miradouro da Lua
Célia Franco on Nota de abertura
Apolino Pereira on Nota de abertura
Armando Gonçalves on Nota de abertura
José Maria Carvalho Ferreira on Nota de abertura
Jorge Antunes on Nota de abertura
João Gaspar on Nota de abertura
Ana Caldeira on Nota de abertura
Diamantino Carvalho on Mataram-me a freguesia
António Olayo on Nota de abertura
Alexandrina Marques on Nota de abertura
Luis Miguel on Nota de abertura
Joao Simões Branco on Nota de abertura
Jorge Castilho on Nota de abertura
Luísa Cabral Lemos on Nota de abertura
José Quinteiro on Nota de abertura
Luiz Miguel Santiago on Nota de abertura
Fernando Regêncio on Nota de abertura
Mário Oliveira on Nota de abertura