15.1 C
Coimbra
Sexta-feira, 1 Novembro, 2024
InícioGERALO frigorífico da Filomena

O frigorífico da Filomena

Andavam cansados. Ele e ela.

A ele sobravam-lhe os anos, a ela minguava-lhe o salário.
E assim foram vivendo, suportando-se mutuamente.
Um dia, porém, ela tomou a decisão inevitável: tinham de separar-se. Ele já não cumpria a função, volta e meia deixava de funcionar e, por escassos que fossem os euros, era necessário reformá-lo.
Foi assim que, depois de meses e meses de indecisão, a Filomena concluiu que tinha de comprar um frigorífico novo.
Foi à loja e disse o que queria: duas zonas, arca congeladora e frigorífico no mesmo aparelho. Levava até a preferência por determinada marca. Olhou, olhou, mas não viu o que pretendia.
O funcionário, simpático e disponível, disse-lhe que podia escolher por catálogo, que no prazo de uns quatro dias, uma semana no máximo, o frigorífico estaria em casa dela.
Assim fez. Abriu o livro, largo de folhas e repleto de fotografias, viu, viu e… escolheu. Era mesmo aquele, o da página 15, que ela queria. Acertaram a compra, o preço, o pagamento em prestações. E ela pagou logo a primeira, cerca de metade do valor do aparelho.
Uns dias depois, bateram-lhe à porta. Era o frigorífico. Chegara o momento da troca: levar o velho, usado por mais de 20 anos, e instalar o novo.
Mal romperam a embalagem, Filomena [é dela que estou a escrever] viu que não era aquele o modelo escolhido. Quem sim, que era, disseram os dois homens que tinham carregado o frigorífico escadas acima. Que não, teimava ela, factura de compra na mão, a comparar o número do modelo que constava no papel com o que estava escrito numa placa nas costas do aparelho.
Os dois homens telefonaram para a loja. Falaram. Ela também foi ao telefone. «Ou me trazem o aparelho que eu escolhi e já comecei a pagar, ou não há negócio!», garantiu, determinada. Do lado de lá diziam-lhe que este modelo era novo, melhor do que o outro, com mais funcionalidades e tudo. Mas ela não cedeu: ou era o frigorífico que tinha escolhido ou não seria nenhum outro. Só queria aquele. E acrescentou que estavam a tentar enganá-la, a vender-lhe gato por lebre.
Os dois homens lá tiveram voltar a carregar o frigorífico novo, escadas abaixo, de regresso à loja. Sem vontade, mas também sem outra alternativa, perante a firmeza de Filomena. E prometeram voltar no prazo de dois, três dias.
Assim aconteceu. Regressaram na terça-feira seguinte, então sim com o tal frigorífico, o que ela escolhera. Instalaram o aparelho novo e levaram o velho. O negócio, finalmente, concretizara-se: ela escolhera determinado produto e o que lhe entregaram correspondia ao que tinha escolhido. Estava desfeito o engano, cumprira-se o contrato.
Nessa noite, sentada no sofá, a descansar de mais um dia de canseiras, tantas!, Filomena deu consigo a filosofar: «Assunto encerrado, este do frigorífico. Em duas semanas tudo se resolveu. Fosse assim na Política!… Nesta, votamos num partido que promete não aumentar impostos, ele ganha, chega ao poder e faz o contrário, e quando nós reclamamos e pedimos que cumpra o prometido, dizem-nos para esperar pelas próximas eleições, para esperar quatro anos. O negócio dos frigoríficos, afinal, é mais sério do que a Política».
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Célia Franco sobre Redacção da TSF ocupada
Maria da Conceição de Oliveira sobre Liceu D. Maria: reencontro 40 anos depois
maria fernanda martins correia sobre Água em Coimbra 54% mais cara do que em Lisboa
João Vaz sobre Conversas [Vasco Francisco]
Eduardo Varandas sobre Conversas [Vasco Francisco]
Emília Trindade sobre Um nascimento atribulado
Emília Trindade sobre Sonhos… [Mário Nicolau]
Emília Trindade sobre Sonhos… [Mário Nicolau]
Américo Coutinho sobre “FDP” [Salvador Massano Cardoso]
José da Conceição Taborda sobre João Silva
António B. Martins sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Cristina Figueiredo sobre Encontro Bata Azul 40 anos
Maria Emília Seabra sobre Registos – I [Eduardo Aroso]
São Romeiro sobre Encontro Bata Azul 40 anos
maria santos sobre A carta de Ricardo Castanheira
Maria do Rosário Portugal sobre Ricardo Castanheira é suspenso e abandona PS
M Conceição Rosa sobre Quando a filha escreve no jornal…
José Maria Carvalho Ferreira sobre COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Ana Maria Ferreira sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria Isabel Teixeira Gomes sobre COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria de Fátima Martins sobre Prof. Jorge Santos terminou a viagem
margarida Pedroso de lima sobre Prof. Jorge Santos terminou a viagem
Maria Emília Gaspar sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Manuel Henrique Saraiva sobre Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Luísa Cabral Lemos sobre Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Eduardo Saraiva sobre Prós e Contras: porquê em Coimbra?
Armando Manuel Silvério Colaço sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Henrique Chicória sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria de Fátima Pedroso Barata Feio Sariva sobre Encarnação inaugurou Coreto com mais de 100 anos
Isabel Hernandez sobre Lembram-se do… Viegas?
Maria Teresa Freire Oliveira sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Manuel Marques Inácio sobre MARINHO PINTO candidato ao Parlamento Europeu
Maria Teresa Freire Oliveira sobre REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Madalena >Ferreira de Castro sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre INSÓLITO / Tacho na sessão da Câmara de Miranda
Ermenilde F.C.Cipriano sobre REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre De onde sou, sempre serei
Carlos Santos sobre Revolta de um professor
Eduardo Varandas sobre De onde sou, sempre serei
Norberto Pires sobre Indignidade [Norberto Pires]
Luis Miguel sobre Revolta de um professor
Fernando José Pinto Seixas sobre Indignidade [Norberto Pires]
Olga Rodrigues sobre De onde sou, sempre serei
Eduardo Saraiva sobre Pergunta inquietante
Isabel Hernandez sobre Hoje é dia de S. Cristiano Ronaldo
Leopoldo Serra sobre Ronaldo: alma portuguesa a chorar
mritasoares@hotmail.com sobre Hoje há poesia (15h00) na Casa da Cultura
Eduardo Varandas sobre Caricatura 3 (por Victor Costa)
Maria do Carmo Neves sobre FERREIRA FERNANDES sobre Sócrates
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Revalidar a carta de condução
Eduardo Saraiva sobre Aproveitar o lado bom do capitalismo
Eduardo Saraiva sobre Eusébio faleceu de madrugada
Luís Pinheiro sobre No Café Montanha
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Eusébio faleceu de madrugada
José Maria Carvalho Ferreira sobre José Basílio Simões no “Expresso”
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Carta de Lisboa
Manuel Fernandes sobre No Café Montanha
Eduardo Saraiva sobre Mau tempo em Coimbra (imagens TVI)
candido pereira sobre VERGONHA: Mondego ultrapassa margens
Ana Caldeira sobre Desabamento na Estrada de Eiras
Rosário Portugal sobre Desabamento na Estrada de Eiras
manuel xarepe sobre No Café Montanha
Jorge Antunes sobre Mataram-me a freguesia
António Conchilha Santos sobre Nota de abertura
Herminio Ferreira Rico sobre Ideias e idiotas!
José Reis sobre Nota de abertura
Eduardo Varandas sobre Caricatura
Eduardo Varandas sobre Miradouro da Lua
Célia Franco sobre Nota de abertura
Apolino Pereira sobre Nota de abertura
Armando Gonçalves sobre Nota de abertura
José Maria Carvalho Ferreira sobre Nota de abertura
Jorge Antunes sobre Nota de abertura
João Gaspar sobre Nota de abertura
Ana Caldeira sobre Nota de abertura
Diamantino Carvalho sobre Mataram-me a freguesia
António Olayo sobre Nota de abertura
Alexandrina Marques sobre Nota de abertura
Luis Miguel sobre Nota de abertura
Joao Simões Branco sobre Nota de abertura
Jorge Castilho sobre Nota de abertura
Luísa Cabral Lemos sobre Nota de abertura
José Quinteiro sobre Nota de abertura
Luiz Miguel Santiago sobre Nota de abertura
Fernando Regêncio sobre Nota de abertura
Mário Oliveira sobre Nota de abertura