16.6 C
Coimbra
Sexta-feira, 2 Junho, 2023
InícioGERALQuando os filhos crescem

Quando os filhos crescem

(reflexão sobre a educação na família)

apoteoseA apoteose do espectáculo no Coliseu dos Recreios

Na outra quarta-feira dei uma saltada a Lisboa para acompanhar o meu filho na “Noite da Medicina”, o sarau anual dos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa.

Foi um espectáculo bonito, durante três horas, no Coliseu dos Recreios. Mais do que bonito: em alguns momentos, os participantes pareceram – em vez de estudantes universitários – actores, cantores e bailarinos profissionais, tal a qualidade dos “sketches”, das canções e das danças, servidos por uma cenografia de bom nível, excelente som e criativos jogos de luzes. Mas sem nunca deixar de ser um sarau académico.

[O João prepara-se para concluir o curso de Medicina. Um primeiro (grande) passo no caminho de quem pretende ser cirurgião. Veremos o que o futuro lhe reserva…]

*

O final do curso do João vai ser um marco importante na minha vida e na da minha mulher. Há 30 anos que existimos para os filhos. Foi uma opção de vida, como outra qualquer. A aposta foi clara: em vez de carros e de moradias, ou de viagens por paragens paradisíacas, que porventura nunca teríamos ou nunca faríamos, decidimos investir neles.

Eles, a Filipa e o João, nunca viveram um dia sem a presença do pai ou da mãe; ou de ambos. E essa presença foi o maior investimento, bem maior do que as aulas de inglês que começaram a frequentar (quase… clandestinamente) aos 5 anos de idade, o que lhes dá hoje uma competência linguística pouco vulgar. Ou as classes de música, a equitação, o judo, o futebol, o basquetebol ou os campos de férias no estrangeiro.

A Filipa concluiu Direito em Coimbra, aos 23 anos, com 15 valores, ao mesmo tempo que corria a Europa de ponta-a-ponta para representar mais de meio milhão de jovens como ela, sem que a faculdade lhe desse as mínimas facilidades, ao contrário do que fazia a outros colegas cujo “horizonte associativo” pouco ultrapassava o princípio e o fim da… Rua Padre António Vieira.

Concluiu o curso em 2006 e parece que foi ontem. [E talvez tenha sido mesmo ontem, porque a Universidade ainda não lhe passou o correspondente diploma.] Trabalha em Lisboa há cinco anos, já viu um “plano de negócios” que elaborou para a filial em Londres de uma empresa portuguesa ser premiado pelo reino inglês. E luta pela vida todos os dias, decidida, sem “muletas” de qualquer espécie.

Dentro de meses, tudo o indica, será o João. E partirá à procura do seu espaço profissional, aqui ou em qualquer outro país que lhe abra as portas. Está habituado, tal como a irmã, a enfrentar os próprios desafios.

 Filhos

Ao longo destes anos, sempre lhes disse que, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, iriam ter uma vida pior do que a minha. Eu vivi sempre (posso mesmo escrever, até hoje) de forma despreocupada. Fui seguindo o meu caminho, opção aqui, outra ali, num ambiente de relativa paz. Eles não. Habituaram-se desde pequenos a viver sob pressão: primeiro, a dos “numerus clausus”; agora a do mercado de trabalho.

Também lhes disse que eles teriam de contar, apenas, consigo próprios. Que nunca esperassem que o pai “metesse uma cunha” ou, simplesmente, fizesse uns telefonemas. Mas sempre acrescentei, igualmente, que eles estariam muito melhor preparados do que eu na mesma idade. Têm muito mais mundo, capacidades mais desenvolvidas. Em suma: são muito melhores do que eu fui – e sou.

O final do curso do João é assim como que o encerrar de um capítulo (o mais longo) da minha vida: o da formação dos filhos. Aproxima-se uma nova etapa. E também agora, como aliás sempre tem sucedido, sinto-me em perfeita paz.

Sei, tenho a certeza, que eles são capazes de caminhar pelo próprio pé – e que, por isso, o futuro não lhes mete medo. Uma e outro são autênticos vencedores, que não necessitam, nunca necessitaram, de se agarrar às calças do pai ou às saias da mãe. Nem, sequer, ao apelido – como se não fosse ele dos mais vulgares em Portugal.

Hoje é gratificante verificar que o sonho de há três décadas se transformou em realidade. O mérito será de todos – mas é, sobretudo, deles. Da Filipa e do João. Os meus (enormes) dois ídolos.

A “Dança dos Cirurgiões” em que participou o João Afonso

RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Célia Franco on Redacção da TSF ocupada
Maria da Conceição de Oliveira on Liceu D. Maria: reencontro 40 anos depois
maria fernanda martins correia on Água em Coimbra 54% mais cara do que em Lisboa
Eduardo Varandas on Conversas [Vasco Francisco]
Emília Trindade on Um nascimento atribulado
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
José da Conceição Taborda on João Silva
Cristina Figueiredo on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria Emília Seabra on Registos – I [Eduardo Aroso]
São Romeiro on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria do Rosário Portugal on Ricardo Castanheira é suspenso e abandona PS
M Conceição Rosa on Quando a filha escreve no jornal…
José Maria Carvalho Ferreira on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria Isabel Teixeira Gomes on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria de Fátima Martins on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
margarida Pedroso de lima on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
Manuel Henrique Saraiva on Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Armando Manuel Silvério Colaço on Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria de Fátima Pedroso Barata Feio Sariva on Encarnação inaugurou Coreto com mais de 100 anos
Isabel Hernandez on Lembram-se do… Viegas?
Maria Teresa Freire Oliveira on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Teresa Freire Oliveira on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Madalena >Ferreira de Castro on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on INSÓLITO / Tacho na sessão da Câmara de Miranda
Ermenilde F.C.Cipriano on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on De onde sou, sempre serei
Carlos Santos on Revolta de um professor
Eduardo Varandas on De onde sou, sempre serei
Norberto Pires on Indignidade [Norberto Pires]
Luis Miguel on Revolta de um professor
Fernando José Pinto Seixas on Indignidade [Norberto Pires]
Olga Rodrigues on De onde sou, sempre serei
Eduardo Saraiva on Pergunta inquietante
mritasoares@hotmail.com on Hoje há poesia (15h00) na Casa da Cultura
Eduardo Varandas on Caricatura 3 (por Victor Costa)
Maria do Carmo Neves on FERREIRA FERNANDES sobre Sócrates
Maria Madalena Ferreira de Castro on Revalidar a carta de condução
Eduardo Saraiva on Eusébio faleceu de madrugada
Luís Pinheiro on No Café Montanha
Maria Madalena Ferreira de Castro on Eusébio faleceu de madrugada
José Maria Carvalho Ferreira on José Basílio Simões no “Expresso”
Maria Madalena Ferreira de Castro on Carta de Lisboa
Manuel Fernandes on No Café Montanha
Rosário Portugal on Desabamento na Estrada de Eiras
manuel xarepe on No Café Montanha
Jorge Antunes on Mataram-me a freguesia
António Conchilha Santos on Nota de abertura
Herminio Ferreira Rico on Ideias e idiotas!
José Reis on Nota de abertura
Eduardo Varandas on Caricatura
Eduardo Varandas on Miradouro da Lua
Célia Franco on Nota de abertura
Apolino Pereira on Nota de abertura
Armando Gonçalves on Nota de abertura
José Maria Carvalho Ferreira on Nota de abertura
Jorge Antunes on Nota de abertura
João Gaspar on Nota de abertura
Ana Caldeira on Nota de abertura
Diamantino Carvalho on Mataram-me a freguesia
António Olayo on Nota de abertura
Alexandrina Marques on Nota de abertura
Luis Miguel on Nota de abertura
Joao Simões Branco on Nota de abertura
Jorge Castilho on Nota de abertura
Luísa Cabral Lemos on Nota de abertura
José Quinteiro on Nota de abertura
Luiz Miguel Santiago on Nota de abertura
Fernando Regêncio on Nota de abertura
Mário Oliveira on Nota de abertura