“Diário As Beiras” de ontem (clique na imagem para ampliar)
Os vereadores do PSD e do movimento Cidadãos por Coimbra continuam sem espaço na Câmara Municipal para exercer a sua actividade de representação dos 24.852 eleitores que neles votaram. Na última sessão do Executivo, anteontem, José Belo (PSD) e Pedro Bingre do Amaral (CPC) voltaram a exigir aquilo a que, segundo a lei, têm direito e criticaram a atitude da maioria socialista.
Manuel Machado (PS), o presidente, e Carlos Cidade (PS), vereador, opinaram sobre o assunto. Manuel Machado disse, segundo relatou ontem o Diário As Beiras, que «na melhor altura, serão acolhidos da melhor forma». Carlos Cidade lembrou que, no anterior mandato, os vereadores do PS estiveram um ano à espera de gabinete próprio. E disse aos vereadores do PSD, ainda segundo o mesmo jornal, que «de certeza que [agora] não demorará tanto [tempo] como os senhores demoraram».
Esta situação da vida política autárquica de Coimbra merece alguns comentários… políticos.
1. Se Manuel Machado (que tomou posse há mais de mês e meio) demora tanto tempo num assunto tão simples, do dia-a-dia, quanto tempo demorará quando tiver de decidir um assunto complexo?
2. Manuel Machado e o PS não estão a desrespeitar, apenas, os direitos de cinco vereadores: quatro do PSD e um do movimento CPC. Estão, sim, a desrespeitar os quase 25 mil cidadãos que confiaram àqueles vereadores a sua representação no governo do Município.
3. As considerações de Carlos Cidade, aludindo à postura de Carlos Encarnação (PSD), o anterior presidente, colocam o assunto praticamente na dimensão de um qualquer recreio de escola primário. Fazem lembrar aquelas discussões entre crianças: «Ontem não me deixaste jogar com a tua bola, hoje também não jogas com a minha». Esquece-se, porém, Carlos Cidade que a bola não é dele; a bola pertence às dezenas de milhar de contribuintes que pagam impostos em Coimbra.
4. Finalmente, a demora de Manuel Machado em disponibilizar condições de trabalho aos vereadores do PSD e do CPC (o vereador da CDU tem pelouros e gabinete), um “direito mínimo” que está expressamente previsto na lei, pode significar que as declarações do actual presidente na cerimónia de posse não foram mais do que um exercício de retórica. «Todos têm lugar no novo projecto para valorizar Coimbra. Estou a dirigir-me a todos os cidadãos do concelho, a todos os conimbricenses. Estou a dirigir-me a todos os agentes de desenvolvimento, sobretudo aos empresários. Estou a dirigir-me aos funcionários e técnicos municipais. E estou a dirigir-me aos autarcas eleitos, a todos, também aos das oposições», disse Manuel Machado na ocasião.
É esta forma de fazer Política, uma forma velha e gasta, que é um dos principais dramas de Coimbra. Uma forma de fazer política que teve nos últimos 24 anos dois rostos: Manuel Machado e Carlos Encarnação, dois personagens que se podem classificar como “homens de partido”, com tudo o que isso significa.
Coimbra merece melhor e os conimbricenses não têm deixado de o fazer notar.
CARLOS ENCARNAÇÃO foi vendo a votação diminuir sucessivamente (eleito com 38.335 votos em 2001, obteve depois 31.752 em 2005 e 29.357 em 2009), acabando por entrar na história do Município pelo pior motivo: abandonou o cargo depois de ter pedido a confiança dos eleitores e de ter sido eleito. [Penso não existir “crime político” mais grave do que este: trair o “contrato de confiança” estabelecido com os eleitores.]
MANUEL MACHADO, que regressou à presidência do Município uma dúzia de anos depois de ter sido derrotado por Encarnação, teve agora o menor número de votos de qualquer presidente da Câmara de Coimbra, apesar do “ambiente político” geral lhe ser favorável, uma vez que era o candidato natural do “voto de protesto” contra as políticas do Governo PSD. A este título (o de presidente eleito com o menor número de votos de sempre) pode juntar-lhe ainda outro: o de ter sido sufragado nas únicas eleições autárquicas em que, em Coimbra, o número dos que não votaram em qualquer lista foi superior ao dos que escolheram (55% contra 45%).
Termino como comecei: em termos políticos, Manuel Machado e Carlos Encarnação são “mais do mesmo”, como se diz popularmente. São dois bons representantes dos partidos e das políticas que, em termos nacionais, conduziram Portugal ao estado comatoso em que se encontra.
E tal como o país necessita, como de pão para a boca, de novas formas de fazer Política, também Coimbra merece novas atitudes políticas. Nunca foi tão urgente como hoje deitar no “caixote do lixo” da História esta Política Velha que, depois, se reflecte em coisas tão simples como demorar mês e meio a fornecer as condições mínimas de trabalho a cinco vereadores que, em conjunto, representam mais eleitores (24.852) do que aqueles que elegeram o presidente da Câmara (22.631).
Nota: um texto de ontem dos Cidadãos por Coimbra sobre o assunto pode ser lido aqui.