Sou a favor de uma sociedade de concorrência. E a liberdade individual é um valor inquestionável. Na velha dicotomia Esquerda/Direita, que comecei a conhecer nas “conversas de intervalo” no Liceu D. João III, ainda antes do “25 de Abril”, nunca tive dúvidas: sou de Direita.
No entanto, nunca adorei os “deuses do mercado” e sempre me conheci com uma consciência social fundada na Doutrina Social da Igreja Católica. Uma sociedade humana (entre animais irracionais, porventura, será diferente) só faz sentido se olhar para todos os seus membros com olhos de dignidade. Certamente por isso, tenho dedicado muito tempo, desde miúdo, a actividades que nada me trazem de proveito pessoal, mas têm alguma importância em termos de comunidade. Fui dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Centro, membro do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas, fundador do Clube da Comunicação Social de Coimbra, fundador da Academia Olímpica de Portugal, dirigente da Associação de Jornalistas de Desporto, dirigente durante 20 anos da ACM – Coimbra, membro do primeiro Conselho Desportivo Municipal de Coimbra, dirigente da Associação de Futebol de Coimbra, membro da Comissão Diocesana de Comunicação Social, etc., etc.
Em todos estes cargos nunca recebi um cêntimo. Só contribuí – em tempo, em despesas de deslocação, em hotéis, em despesas diversas. [Conheço muita gente que está sempre disponível para exercer cargos desde que receba dinheiro. Para este tipo de cargos não conheço muita gente…]
Apesar de tudo, sou a favor de uma sociedade como aquela em que vivemos.
Só faltam, particularmente em Portugal, entidades fiscalizadoras à altura e, paralelamente, um poder judicial que cumpra a sua função. Porque a sociedade capitalista está a um passo da… selva. E é este passo que não devemos permitir. Ou, em caso de desrespeito, devemos castigar.
Tento aproveitar ao máximo as oportunidades que esta sociedade capitalista, sociedade de consumo, proporciona. E apesar de ter a ideia de que sou uma pessoa de espírito aberto, há coisas que me surpreendem. Melhor: há situações que não consigo entender.
Deixo dois exemplos.
Há meia dúzia de anos comprei uma viagem de avião, de ida-e-volta, a Paris e paguei, já com taxas incluídas, um cêntimo. Sim, leram bem: um cêntimo. Ou seja: 0,01 euros. Por uma viagem de ida-e-volta a Paris. Parece inacreditável.
Anteontem à tarde fui ao hipermercado Continente, em Telheiras (Lisboa). Peguei nuns papéis de publicidade à entrada e reparei que havia uma promoção interessante: comprar 12 caixas de cápsulas de café e receber uma máquina de café grátis. Assim fiz. Como bebo descafeinado, as 12 caixas custaram-me 26,28 euros. Comprei. Trouxe para casa 120 cápsulas. E o hipermercado ofereceu-me uma máquina de 19 bar de potência. Parece inacreditável.
Esta sociedade cada vez mais injusta, muito por culpa dos decisores políticos, tem aspectos surpreendentes. Inacreditáveis, até. Há que aproveitá-los.
A injustiça na sociedade, além de culpa dos decisores, não são os cidadãos menos culpados, por terem deixado de decidir.
A politica, coisa simples – é apenas falar da vida das pessoas. No entanto é coisa demasiado importante para estar exclusivamente nas mãos dos politicos.
Os despudorados e não menos atrevidos politicos, aceitaram e até regozijaram a dádiva popular de que: “A politica é para os politicos” .
Temos aí o resultado.