(Largo da Portagem – Coimbra)
EDUARDO AROSO *
Logo que saímos da porta do café, ainda lemos, mesmo já sem existir na parede do outro lado, o pequeno rectângulo por cima do Montepio, «Adolfo Rocha – médico especialista – ouvidos, nariz e garganta». O nome Miguel Torga está escrito noutros locais, ou melhor, por tudo onde passou o poeta. Mas se olhamos para o outro lado, quase entramos na Ponte de Santa Clara. Basta que ainda estejamos agarrados a um resto de conversa que trazemos de dentro. No espaço, vigia o Mata-Frades, e olhando de lado para o Banco de Portugal, não se sabe também se pensa como nós: o dístico correcto seria Banco Alemão ou Banco Europeu! A seus pés o homem das castanhas e o fumo que, elevando-se no ar já frio de fim de tarde, nos recorda o do velho comboio da Lousã que por ali passava. Mas o S. Martinho não faz milagres! Fumo de castanhas não é o fumo do velho cavalo-de-ferro. Mais logo, no relento da noite, o fumo vai-se; como os tempos e a memória.
Entretanto doem os ossos, enfraquece a carne e as pálpebras caem cansadas de sono. O regresso do comboio é como o de D. Sebastião. Há sempre quem espere e não desespere. Outros, de tanto esperar, já apanharam outros comboios.
* Professor
Está porreiro! Força. Avante!
E o sacana está giro na foto. Parece um artista de telenovela.
Parabéns!… Como sempre, bom observador de pormenores importantes!… Sempre intelectualmente atento, salientando o que aos olhos da maioria passa despercebido, e aliando aos sinais aparentemente subjetivos a inerente expressividade que deles brota, na realidade, segundo uma minuciosa e perspicaz observação culturalmente interpretativa do autor, eis-me em perfeita sintonia na apreciação do que aqui nos evidencia. No entanto, a respeito do Banco, talvez fosse melhor: “Banco dos Donos de Portugal” (para sugerir “cortes”, mas não em geral). Eles, para a crise, nada descontam, talvez porque ganhem mal. Mas melhor, só no Banco (Europeu) Central. (Onde já há exemplo português, afinal).
Boa forma de começar o ano, relembrando um dos grandes da nossa literatura. Muito bem!