(clique na imagem para ouvir a “Balada da distância”, letra e música de Luiz Goes)
Se o Deus assim o quisesse, Luiz Goes completaria hoje, 5 de Janeiro, 81 anos. Mas a grande voz do Fado de Coimbra, a maior de sempre, partiu há mais de um ano, no final do Verão de 2012, na véspera da Académica regressar em Plzen (República Checa) às competições europeias de futebol, após interregno de quatro décadas.
Chorei ao despedir-me na Igreja de Santa Cruz de um dos meus ídolos. E ao chegar a casa sentei-me ao computador e durante horas lutei com as teclas. E com os olhos. O texto que então escrevi, num final de tarde quente de Setembro, pela noite adentro, é o mais lido de sempre de quantos publiquei no Facebook. Centenas e centenas de “Gostos”, mais de duas centenas de partilhas.
É esse texto que hoje recordo aqui, como preito singelo de homenagem a um Homem que foi tão grande como só os Grandes homens sabem ser.
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CARTA (póstuma) A LUIZ GOES
Olha, Luiz, foi muito digno o funeral.
Santa Cruz cheia. As portas abertas de par em par.
Doutores e futricas, povo simples e autoridades, malta das canções e da bola. O Octávio, o Pato, o Moura, os Campos, o Belo e o Marques. Amigos conhecidos, gente anónima. O Edmundo.
No final, o Polybio deu-te um abraço em nome dos colegas de curso, o Carlos conseguiu declamar por entre as lágrimas aquele poema que costumavam cantar juntos.
A Academia esteve representada ao mais alto nível e foram eles que te colocaram por cima a bandeira da Associação.
Cumpriu-se também o teu outro desejo: ouviu-se o «Ó Coimbra do Mondego / E dos amores que eu lá tive…». (Olha, desculpa, disseste que não querias choraminguices, mas eu chorei como uma Maria Madalena, de pé, que o momento era sagrado).
Estava muito calor e várias dezenas de pessoas ao sol no Largo de Sansão. A malta despediu-se de ti à porta da igreja com um F-R-A. E quando o carro fúnebre começou a andar, mesmo atrás de mim, ali para o lado da Carmina, uma jovem já entradota na idade enviou-te um sonoro «Adeus, querido!». E o companheiro dela, não sei se de circunstância se da vida, acrescentou de imediato «Faz boa viagem, pá!». Era a Coimbra futrica a saudar-te, coração aberto, alma ao léu.
Foste chorado por muitos daqueles que te admiravam; ou melhor, que te amavam. Porque tu eras, és, a nossa voz. O Alcoforado não tirou os óculos escuros na hora e meia dentro da igreja. E à saída muitos eram os olhos moídos pelas lágrimas. Mas olha, Luiz, acho que quem chorou mais foi o Carlos, esse, esse mesmo, o teu “irmão” das últimas duas décadas.
>E pronto. Como bem sabes, partiu o meu ídolo de criança, que só conheci pessoalmente já bem adulto. Mas ficou o Amigo com quem depois tive o privilégio de conviver por aqui e por ali.
Um dia destes reencontramo-nos, Luiz, está bem?
(texto publicado originalmente no Facebook em 19/9/2012)