ZÉ DA ALHADA *
Existem comentários que não merecem uma palavra, pela mediocridade da sensatez, da decência intelectual e, também, pela inqualificável cortesia.
Alguns trauliteiros das palavras vieram, agora, a terreiro, aquando da morte de Eusébio, esmurrar o nosso – porque é do Mundo – maior ícone do desporto-rei, Eusébio.
Um deles foi o “avô” Soares, o desta terrinha, da minha. Sem tento na língua, não esteve para preceitos e lá foi dizendo que o Eusébio até bebia umas coisas e demais… Que impropério, que desfaçatez e que loucura de palavras. Mas, as “bocas” do “avô” Soares só foram transmitidas umas duas a três vezes, porque alguém deve ter dado ordens para travar tamanha desonra e deselegância.
Eusébio, foi um “ícone” do futebol português e um ídolo internacional.Foi, também, uma das marcas vivas de maior prestígio e com a máxima visibilidade de um Portugal que deve exaltar as suas figuras, quaisquer que elas sejam.
Além do mais, Eusébio, nascido na capital de Moçambique, teve a fibra de um Povo, o moçambicano, que empresta humildade aos actos, subtileza na palavra, dignidade no trato, condescendência na atitude e alma capaz de saber perdoar atitudes e safanões.
Eusébio jogava, enquanto menino, nas ruas da ex-Lourenço Marques. Descalço, porque os tempos corriam de outra forma… Sem bola, porque a época era escassa em moedas para comprar desperdícios. Com a garra de quem sonhava ter sonhos para, um dia, jogar num “grande” dos futebóis, porque só esses poderiam dar estatuto e as coroas para enfrentar a vida, Eusébio venceu na vida. Tinha jeito para transpor o adversário, levar a pelota até à baliza e introduzi-la para a vitória. Com emoção e com o saber de goleador, empolgou os adeptos e fê-los vibrar nas bancadas de estádios, repletos de multidões “drogadas” pelo efeito do espectáculo da Bola.
Andei pelo Mundo e, em qualquer parte, ao falar de Eusébio, toda a gente o conhecia e o reconhecia, bem como à Senhora D. Amália.
É pena que os nossos desacreditados políticos, e a nossa vergonhosa política, já não tenham introduzido na História portuguesa um pouco da vida e da obra, de um e de outro.
Qualquer país de orgulho nacionalista, de História, de Tradições, de Figuras e de Cidadania activa, deve exaltar os seus, porque a vida é feita de pequenos e de grandes actos, gestos, decisões, atitudes, actuações, presenças e de palavras. Tentar escarnecer, como o fez o “avô” Soares, figuras como a de Eusébio, define quem propalou as “bocas”.
Eusébio merece, também, apesar de tudo e do demais, que Moçambique se recorde dele, enaltecendo a sua vida e a sua obra, em qualquer recanto da cidade que o viu nascer, bem como dando-lhe guarida nas páginas da História do país e nas das escolas. É dos “exemplos certificados”, com a chancela de uma qualidade que só pertence ao grupo dos bons e dos mais prestigiados, de que vivem e se alimentam as Nações e os Cidadãos. Eusébio tem vastos episódios para figurarem no “cardápio” dos Figurantes mais dignos de um país. E ele não foi, de todo e só, português, porque tem “costela”, tez e respira Moçambique.
Eusébio foi dos mais dignos executores de futebol e foi das Figuras mais nobres, mais emblemáticas, mais cativantes e mais contagiantes que o País pode levar a qualquer parte como símbolo da Nação e do desporto-rei.
Faço votos para que o “Pantera Negra”, do patamar onde agora chegou, saiba perdoar (aliás, como sempre o soube fazer) a um “avô” que já nos habituámos a conhecer e que não tem sabido olhar para si próprio. Ora diga lá, “avô” Soares, se uma soneca das suas não fica tão mal em cerimónias oficiais e outras? Não atire pedras, porque lhe podem cair em cima… A vida particular e íntima de Eusébio só a ele e a Deus pertencem, o resto são malfeitorias de um tipo de gente que desbragadamente sempre teve jeito e modo para “insultar” quem não devia – até, e quanto mais não fosse, por uma questão de decência, educação e elevação humana.
Este “avô cantigas” está fora de prazo e de tempo. As suas palavras só têm eco em escadarias de uma esquerda folclórica ridícula e peçonhenta.
* pseudónimo