Viegas, o guarda-redes, o primeiro do lado esquerdo, de pé
Mário Martins *
Os anos dão-nos um “lastro” que nos permitem, volta e meia, recordar momentos do passado. Foi o que sucedeu ontem à noite, ao assistir ao Olympiakos-Benfica, da Liga dos Campeões.
Fui vendo o jogo enquanto fazia outras coisas, mas apercebi-me que o guarda-redes dos gregos, o espanhol Roberto, que já jogou no Benfica, foi a grande figura do encontro, negando uma mão-cheia de golos à equipa lisboeta. Uma exibição soberba, que garantiu o triunfo do Olympiakos e praticamente afastou os “encarnados” da Liga dos Campeões.
Roberto é um exemplo típico daquilo que, na gíria do futebol, se diz ser um “guarda-redes de engate”: ora dá uns valentes “frangos”, ora “engata” uma grande exibição. Com eles não há meios termos.
E dei comigo a pensar, durante a transmissão do jogo de ontem do Benfica em Atenas, em alguns guarda-redes que conheci na baliza da Académica, desde os tempos de miúdo de calções que ia para a porta do estádio e pedia «Ó senhor, deixe-me entrar consigo…». E lá entrava e cumpria o desejo de ver os jogos no Calhabé. [Era esta a única forma de entrar no estádio, já que o meu pai tinha – entre outros – um princípio de que muito se orgulhava: o de nunca ter visto um jogo de futebol, que para ele eram 11 tipos em calções a correr contra outros 11 tipos em calções, com outro no meio, também de calções, a apitar». E morreu depois dos 70 anos sem nunca ter entrado num estádio…]
Voltemos aos guarda-redes da Académica… Qual terá sido o maior “guarda-redes de engate” que vestiu a camisola negra? – pensei. Lembrei-me de vários. O Maló (ou melhor, o dr. Maló) nem sequer entrou na lista, porque era guarda-redes de classe acima de qualquer suspeita. O Melo?… O Brassard?… O Mãozinhas?… Sim, qualquer um deles poderia ter sido o melhor “guarda-redes de engate” da Briosa.
Mas não, o maior de todos, na minha modesta opinião, foi sem dúvida o Viegas. Ele, sim. De vez em quando, lá “abria a capoeira” (é outra vez a gíria do futebol) e deixava sair uma frangalhada. Ou seja, permitia um “golo fácil” ao adversário. Mas quando ele “engatava”, ninguém o conseguia bater. Defendia com as mãos, com os pés, em voo ou rente ao solo, defendia com o peito e com as pernas. Era inultrapassável, como sucedeu ontem com o espanhol Roberto frente ao Benfica.
Está atribuída a distinção: Viegas foi o maior, o melhor, “guarda-redes de engate” que vi jogar até hoje na Académica.
* publicado originalmente em 6 de Novembro de 2013
Adorei! Tinha saudades de um texto assim… Lê-se com o ritmo de uns passes de bola e com o sabor de umas boas recordações.