NORBERTO PIRES *
Estive a ver a estatística do INE (Instituto Nacional de Estatística) sobre o desemprego em Portugal. Os meios de comunicação social e a propaganda (começa a ser muito difícil distinguir uma coisa da outra) clamavam hossanas a uma taxa de desemprego que estava a baixar. Fixe. Fico mesmo muito contente. Mas como eu ando na rua, falo com as pessoas e não sinto nada disso, fui ver o números e fiz umas contas usando a mesma folha de Excel do INE. Deixo o quadro abaixo e a ligação para o ficheiro Excel, para que verifiquem os dados e as contas.
Números do INE de pessoas Empregadas e Desempregadas, com variação trimestral e anual (valores em milhares)
A população empregada aumentou 21.800 quando comparamos o 4.º trimestre de 2012 com o 3.º trimestre de 2013 e 7.900 quando comparamos esse trimestre com o seguinte, ou seja, com o 4.º trimestre de 2013. A variação anual, de 2012 para 2013, foi mais 21.900 pessoas empregadas. Ok. Nem que fosse só uma pessoa, já era positivo, porque era menos uma família desesperada, cujo dia-a-dia deixa de ser vivido com esse flagelo do desemprego.
No entanto, olhando para a população desempregada, os números não coincidem, por muito larga margem. A variação anual foi de – 96.500 pessoas, ou seja, registaram-se menos quase 100 mil pessoas desempregadas entre 2012 e 2013.
Mas se no final de 2013 havia mais 29.700 pessoas empregadas, quando comparado com 2012, e o número de pessoas desempregadas diminuiu, no mesmo período, 96.500, o que aconteceu às 96.500 – 29 700 = 66 800 pessoas que deixaram de estar oficialmente como “desempregadas” e não aparecem como “empregadas”?
E reparem no grupo etário entre os 15 e os 34 anos. Fiz outra tabela para ver isto em detalhe.
Números do INE de pessoas, no grupo etário dos 15 aos 34 anos, Empregadas e Desempregadas,
com variação trimestral e anual (valores em milhares)
Há menos 26.500 pessoas, jovens neste caso, empregadas em 2013, quando se compara com 2012. Ou seja, o país perdeu 26.500 empregos neste grupo etário dos 15 aos 34 anos. Mas o mais paradigmático é que existem também menos 62.500 desempregados, no grupo etário 15-34 anos, quando se compara 2013 com 2012. Ou seja, não se criou emprego, antes pelo contrário foram destruídos mais de 26 mil postos de trabalho (neste grupo etário), e o número de desempregados no mesmo grupo etário também diminui muito.
O que é feito desta gente toda? Emigrou? Desistiu? Onde anda? O que estão a fazer? Ninguém se preocupa?
Custa-me que não se façam estas perguntas.
Custa-me que não se procurem as respostas.
Custa-me que uma delas seja que «Portugal não é para jovens».
Nem para velhos.
Nem para os outros.
E detesto que me tentem enganar… com números.
Link para Ficheiro Excel com dados e cálculos aqui.
* * *
A ministra da Agricultura em 2012 e 2013 dizia: «Há emprego na Agricultura».
No final de 2013 (há uns dias, portanto): «Nos últimos anos tem-se registado a criação de emprego no mundo agrícola, hoje são 280 os novos empresário agrícolas que se instalam mensalmente em Portugal, e a criação de emprego deve ser cada vez mais profissionalizante e sofisticada em termos de formação, exactamente aquilo que estas escolas profissionais estão a fazer».
Consultamos os dados do INE onde se pode ver:
Quadro retirado do “Boletim de emprego”, ficheiro em Excel, do INE referente ao 4.º trimestre de 2013.
Ou seja, em 2013 o sector perdeu 414 800 – 467 600 = 52 800 empregos. Digo por extenso cinquenta e dois mil e oitocentos empregos. Portanto, os mais de 280 novos empresários por mês, o que daria mais de 280 * 12 = 3.360 empresários por ano, apresentam como balanço da sua actividade a perda de quase 60 mil empregos.
Sinceramente não sei o que dizer. Ou é mentira, ou os empresários são tão maus que em vez de criarem emprego pela dinâmica da sua acção fazem exactamente o contrário, ou então… isto é tudo feito em cima do joelho, e os governantes dizem o que lhes vem à cabeça quando lhe metem um microfone à frente.
Eh pá e continuo a detestar que me tentem enganar… com números.
* Professor universitário. Textos publicados no blogue Rua Direita