6.1 C
Coimbra
Sexta-feira, 17 Janeiro, 2025
InícioDESTAQUEDetesto que me enganem… com números!

Detesto que me enganem… com números! [Norberto Pires]

NORBERTO PIRES *

Estive a ver a estatística do INE (Instituto Nacional de Estatística) sobre o desemprego em Portugal. Os meios de comunicação social e a propaganda (começa a ser muito difícil distinguir uma coisa da outra) clamavam hossanas a uma taxa de desemprego que estava a baixar. Fixe. Fico mesmo muito contente. Mas como eu ando na rua, falo com as pessoas e não sinto nada disso, fui ver o números e fiz umas contas usando a mesma folha de Excel do INE. Deixo o quadro abaixo e a ligação para o ficheiro Excel, para que verifiquem os dados e as contas.

web-Imagem1Números do INE de pessoas Empregadas e Desempregadas, com variação trimestral e anual (valores em milhares)

A população empregada aumentou 21.800 quando comparamos o 4.º trimestre de 2012 com o 3.º trimestre de 2013 e 7.900 quando comparamos esse trimestre com o seguinte, ou seja, com o 4.º trimestre de 2013. A variação anual, de 2012 para 2013, foi mais 21.900 pessoas empregadas. Ok. Nem que fosse só uma pessoa, já era positivo, porque era menos uma família desesperada, cujo dia-a-dia deixa de ser vivido com esse flagelo do desemprego.

No entanto, olhando para a população desempregada, os números não coincidem, por muito larga margem. A variação anual foi de – 96.500 pessoas, ou seja, registaram-se menos quase 100 mil pessoas desempregadas entre 2012 e 2013.

Mas se no final de 2013 havia mais 29.700 pessoas empregadas, quando comparado com 2012, e o número de pessoas desempregadas diminuiu, no mesmo período, 96.500, o que aconteceu às 96.500 – 29 700 = 66 800 pessoas que deixaram de estar oficialmente como “desempregadas” e não aparecem como “empregadas”?

E reparem no grupo etário entre os 15 e os 34 anos. Fiz outra tabela para ver isto em detalhe.

web-Imagem2

 Números do INE de pessoas, no grupo etário dos 15 aos 34 anos, Empregadas e Desempregadas,
com variação trimestral e anual (valores em milhares)

Há menos 26.500 pessoas, jovens neste caso, empregadas em 2013, quando se compara com 2012. Ou seja, o país perdeu 26.500 empregos neste grupo etário dos 15 aos 34 anos. Mas o mais paradigmático é que existem também menos 62.500 desempregados, no grupo etário 15-34 anos, quando se compara 2013 com 2012. Ou seja, não se criou emprego, antes pelo contrário foram destruídos mais de 26 mil postos de trabalho (neste grupo etário), e o número de desempregados no mesmo grupo etário também diminui muito.

O que é feito desta gente toda? Emigrou? Desistiu? Onde anda? O que estão a fazer? Ninguém se preocupa?

Custa-me que não se façam estas perguntas.
Custa-me que não se procurem as respostas.
Custa-me que uma delas seja que «Portugal não é para jovens».
Nem para velhos.
Nem para os outros.

E detesto que me tentem enganar… com números.

Link para Ficheiro Excel com dados e cálculos aqui.

* * *

A ministra da Agricultura em 2012 e 2013 dizia: «Há emprego na Agricultura».

No final de 2013 (há uns dias, portanto): «Nos últimos anos tem-se registado a criação de emprego no mundo agrícola, hoje são 280 os novos empresário agrícolas que se instalam mensalmente em Portugal, e a criação de emprego deve ser cada vez mais profissionalizante e sofisticada em termos de formação, exactamente aquilo que estas escolas profissionais estão a fazer».

Consultamos os dados do INE onde se pode ver:

 

web-Quadro

 Quadro retirado do “Boletim de emprego”, ficheiro em Excel, do INE referente ao 4.º trimestre de 2013.

Ou seja, em 2013 o sector perdeu 414 800 – 467 600 = 52 800 empregos. Digo por extenso cinquenta e dois mil e oitocentos empregos. Portanto, os mais de 280 novos empresários por mês, o que daria mais de 280 * 12 = 3.360 empresários por ano, apresentam como balanço da sua actividade a perda de quase 60 mil empregos.

Sinceramente não sei o que dizer. Ou é mentira, ou os empresários são tão maus que em vez de criarem emprego pela dinâmica da sua acção fazem exactamente o contrário, ou então… isto é tudo feito em cima do joelho, e os governantes dizem o que lhes vem à cabeça quando lhe metem um microfone à frente.

Eh pá e continuo a detestar que me tentem enganar… com números.

* Professor universitário. Textos publicados no blogue Rua Direita

 web-Norberto-Pires

RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Célia Franco sobre Redacção da TSF ocupada
Maria da Conceição de Oliveira sobre Liceu D. Maria: reencontro 40 anos depois
maria fernanda martins correia sobre Água em Coimbra 54% mais cara do que em Lisboa
João Vaz sobre Conversas [Vasco Francisco]
Eduardo Varandas sobre Conversas [Vasco Francisco]
Emília Trindade sobre Um nascimento atribulado
Emília Trindade sobre Sonhos… [Mário Nicolau]
Emília Trindade sobre Sonhos… [Mário Nicolau]
Américo Coutinho sobre “FDP” [Salvador Massano Cardoso]
José da Conceição Taborda sobre João Silva
António B. Martins sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Cristina Figueiredo sobre Encontro Bata Azul 40 anos
Maria Emília Seabra sobre Registos – I [Eduardo Aroso]
São Romeiro sobre Encontro Bata Azul 40 anos
maria santos sobre A carta de Ricardo Castanheira
Maria do Rosário Portugal sobre Ricardo Castanheira é suspenso e abandona PS
M Conceição Rosa sobre Quando a filha escreve no jornal…
José Maria Carvalho Ferreira sobre COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Ana Maria Ferreira sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria Isabel Teixeira Gomes sobre COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria de Fátima Martins sobre Prof. Jorge Santos terminou a viagem
margarida Pedroso de lima sobre Prof. Jorge Santos terminou a viagem
Maria Emília Gaspar sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Manuel Henrique Saraiva sobre Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Luísa Cabral Lemos sobre Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Eduardo Saraiva sobre Prós e Contras: porquê em Coimbra?
Armando Manuel Silvério Colaço sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Henrique Chicória sobre Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria de Fátima Pedroso Barata Feio Sariva sobre Encarnação inaugurou Coreto com mais de 100 anos
Isabel Hernandez sobre Lembram-se do… Viegas?
Maria Teresa Freire Oliveira sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Manuel Marques Inácio sobre MARINHO PINTO candidato ao Parlamento Europeu
Maria Teresa Freire Oliveira sobre REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Madalena >Ferreira de Castro sobre Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre INSÓLITO / Tacho na sessão da Câmara de Miranda
Ermenilde F.C.Cipriano sobre REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso sobre De onde sou, sempre serei
Carlos Santos sobre Revolta de um professor
Eduardo Varandas sobre De onde sou, sempre serei
Norberto Pires sobre Indignidade [Norberto Pires]
Luis Miguel sobre Revolta de um professor
Fernando José Pinto Seixas sobre Indignidade [Norberto Pires]
Olga Rodrigues sobre De onde sou, sempre serei
Eduardo Saraiva sobre Pergunta inquietante
Isabel Hernandez sobre Hoje é dia de S. Cristiano Ronaldo
Leopoldo Serra sobre Ronaldo: alma portuguesa a chorar
mritasoares@hotmail.com sobre Hoje há poesia (15h00) na Casa da Cultura
Eduardo Varandas sobre Caricatura 3 (por Victor Costa)
Maria do Carmo Neves sobre FERREIRA FERNANDES sobre Sócrates
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Revalidar a carta de condução
Eduardo Saraiva sobre Aproveitar o lado bom do capitalismo
Eduardo Saraiva sobre Eusébio faleceu de madrugada
Luís Pinheiro sobre No Café Montanha
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Eusébio faleceu de madrugada
José Maria Carvalho Ferreira sobre José Basílio Simões no “Expresso”
Maria Madalena Ferreira de Castro sobre Carta de Lisboa
Manuel Fernandes sobre No Café Montanha
Eduardo Saraiva sobre Mau tempo em Coimbra (imagens TVI)
candido pereira sobre VERGONHA: Mondego ultrapassa margens
Ana Caldeira sobre Desabamento na Estrada de Eiras
Rosário Portugal sobre Desabamento na Estrada de Eiras
manuel xarepe sobre No Café Montanha
Jorge Antunes sobre Mataram-me a freguesia
António Conchilha Santos sobre Nota de abertura
Herminio Ferreira Rico sobre Ideias e idiotas!
José Reis sobre Nota de abertura
Eduardo Varandas sobre Caricatura
Eduardo Varandas sobre Miradouro da Lua
Célia Franco sobre Nota de abertura
Apolino Pereira sobre Nota de abertura
Armando Gonçalves sobre Nota de abertura
José Maria Carvalho Ferreira sobre Nota de abertura
Jorge Antunes sobre Nota de abertura
João Gaspar sobre Nota de abertura
Ana Caldeira sobre Nota de abertura
Diamantino Carvalho sobre Mataram-me a freguesia
António Olayo sobre Nota de abertura
Alexandrina Marques sobre Nota de abertura
Luis Miguel sobre Nota de abertura
Joao Simões Branco sobre Nota de abertura
Jorge Castilho sobre Nota de abertura
Luísa Cabral Lemos sobre Nota de abertura
José Quinteiro sobre Nota de abertura
Luiz Miguel Santiago sobre Nota de abertura
Fernando Regêncio sobre Nota de abertura
Mário Oliveira sobre Nota de abertura