18.2 C
Coimbra
Quarta-feira, 31 Maio, 2023
InícioDESTAQUEMelhorar o tratamento de doentes com cancro

Melhorar o tratamento de doentes com cancro

Dois investigadores da Universidade de Coimbra conseguiram resultados promissores para melhorar o tratamento de doentes com cancro

 

 ANTÓNIO PIEDADE*

Um dos problemas associado ao tratamento por quimioterapia de doentes com cancro é o da resistência que estes desenvolvem aos fármacos usados, o que reduz em muito a eficácia terapêutica.

É o caso do fármaco cisplatina e de compostos a ele análogos. A cisplatina é usada no tratamento de vários tipos cancros (pulmão, testículo, ovário e bexiga, entre outros) e, para além de ser muito tóxica para as células (sãs e doentes), muitos doentes adquirem resistência à sua acção.

Compreender melhor o mecanismo envolvido na resistência adquirida e reduzir os efeitos colaterais da sua administração, são dois objectivos dos investigadores Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho, da Unidade de I&D “Química-Física Molecular” da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Uma experiência realizada por estes cientistas no Centro de investigação ISIS – que produz o mais potente feixe de neutrões e muões do mundo – sedeado no Rutherford Appleton Laboratory do Science and Technology Facilities Council, perto de Oxford, no Reino Unido, permitiu uma melhor compreensão do modo como a glutationa (antioxidante celular) contribui para a resistência adquirida à cisplatina.

Numa outra perspectiva da sua investigação, os cientistas conseguiram ainda “mascarar” o fármaco com um veículo à base de ciclodextrina (polímero de açucares) para impedir o seu contacto com a glutationa e, assim, fazê-lo chegar eficazmente ao tumor onde exercerá o seu efeito terapêutico.

Os resultados altamente promissores alcançados nestas experiências mereceram destaque na página oficial do ISIS – science “highlight” (http://bit.ly/NQf416), segundo um comunicado da Universidade de Coimbra.

Perceber como «a glutationa sequestra a cisplatina, impedindo-a de chegar ao alvo em doses apreciáveis – (apenas uma pequena percentagem da dosagem administrada ao doente chega às células cancerígenas) – e encontrar uma forma de ultrapassar este tipo de resistência, permitirá desenvolver formulações farmacológicas mais eficazes e menos tóxicas para o doente», explicam Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho no mesmo comunicado.

Maria-Paula-Marques-e-Luís-Batista-de-Carvalho

Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho

As próximas etapas desta investigação passam pela realização de novas experiências no ISIS que terão o objectivo de verificar se a cisplatina encapsulada em ciclodextrinas não é sequestrada pela glutationa celular.

Caso se obtenham resultados positivos, será então possível avançar para ensaios pré-clínicos e clínicos, de modo a testar a viabilidade da aplicação prática destas novas formulações. «Esperamos provar que a cápsula de ciclodextrinas protege eficientemente a cisplatina, sendo assim um bom transportador até ao alvo. A confirmar-se a eficácia desta estratégia, este veículo poderá também reduzir os efeitos secundários do fármaco, já que protege as células sãs dos seus efeitos nocivos. Poderá igualmente permitir que o tratamento até agora administrado exclusivamente por via intravenosa possa ser feito por via oral, aumentando significativamente o conforto e a qualidade de vida do doente», destacam os investigadores no comunicado da UC.

Este é um bom exemplo da investigação de excelência desenvolvida na nossa Universidade, em que uma investigação fundamental pode ter aplicação directa na qualidade de vida dos pacientes com cancro.

 * consultor científico no projecto Ciência na Imprensa Regional / Investigador na Universidade de Coimbra

Antonio-Piedade-faixa

 

RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Célia Franco on Redacção da TSF ocupada
Maria da Conceição de Oliveira on Liceu D. Maria: reencontro 40 anos depois
maria fernanda martins correia on Água em Coimbra 54% mais cara do que em Lisboa
Eduardo Varandas on Conversas [Vasco Francisco]
Emília Trindade on Um nascimento atribulado
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
Emília Trindade on Sonhos… [Mário Nicolau]
José da Conceição Taborda on João Silva
Cristina Figueiredo on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria Emília Seabra on Registos – I [Eduardo Aroso]
São Romeiro on Encontro Bata Azul 40 anos
Maria do Rosário Portugal on Ricardo Castanheira é suspenso e abandona PS
M Conceição Rosa on Quando a filha escreve no jornal…
José Maria Carvalho Ferreira on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria Isabel Teixeira Gomes on COIMBRA JORNAL tem novos colaboradores
Maria de Fátima Martins on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
margarida Pedroso de lima on Prof. Jorge Santos terminou a viagem
Manuel Henrique Saraiva on Como eu vi o “Prós e Contras” da RTP
Armando Manuel Silvério Colaço on Qual é a maior nódoa negra de Coimbra?
Maria de Fátima Pedroso Barata Feio Sariva on Encarnação inaugurou Coreto com mais de 100 anos
Isabel Hernandez on Lembram-se do… Viegas?
Maria Teresa Freire Oliveira on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Teresa Freire Oliveira on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Maria Madalena >Ferreira de Castro on Crónica falhada: um ano no Fundo de Desemprego
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on INSÓLITO / Tacho na sessão da Câmara de Miranda
Ermenilde F.C.Cipriano on REPORTAGEM / Bolas de Berlim porta-a-porta
Eduardo Manuel Dias Martins Aroso on De onde sou, sempre serei
Carlos Santos on Revolta de um professor
Eduardo Varandas on De onde sou, sempre serei
Norberto Pires on Indignidade [Norberto Pires]
Luis Miguel on Revolta de um professor
Fernando José Pinto Seixas on Indignidade [Norberto Pires]
Olga Rodrigues on De onde sou, sempre serei
Eduardo Saraiva on Pergunta inquietante
mritasoares@hotmail.com on Hoje há poesia (15h00) na Casa da Cultura
Eduardo Varandas on Caricatura 3 (por Victor Costa)
Maria do Carmo Neves on FERREIRA FERNANDES sobre Sócrates
Maria Madalena Ferreira de Castro on Revalidar a carta de condução
Eduardo Saraiva on Eusébio faleceu de madrugada
Luís Pinheiro on No Café Montanha
Maria Madalena Ferreira de Castro on Eusébio faleceu de madrugada
José Maria Carvalho Ferreira on José Basílio Simões no “Expresso”
Maria Madalena Ferreira de Castro on Carta de Lisboa
Manuel Fernandes on No Café Montanha
Rosário Portugal on Desabamento na Estrada de Eiras
manuel xarepe on No Café Montanha
Jorge Antunes on Mataram-me a freguesia
António Conchilha Santos on Nota de abertura
Herminio Ferreira Rico on Ideias e idiotas!
José Reis on Nota de abertura
Eduardo Varandas on Caricatura
Eduardo Varandas on Miradouro da Lua
Célia Franco on Nota de abertura
Apolino Pereira on Nota de abertura
Armando Gonçalves on Nota de abertura
José Maria Carvalho Ferreira on Nota de abertura
Jorge Antunes on Nota de abertura
João Gaspar on Nota de abertura
Ana Caldeira on Nota de abertura
Diamantino Carvalho on Mataram-me a freguesia
António Olayo on Nota de abertura
Alexandrina Marques on Nota de abertura
Luis Miguel on Nota de abertura
Joao Simões Branco on Nota de abertura
Jorge Castilho on Nota de abertura
Luísa Cabral Lemos on Nota de abertura
José Quinteiro on Nota de abertura
Luiz Miguel Santiago on Nota de abertura
Fernando Regêncio on Nota de abertura
Mário Oliveira on Nota de abertura