Manuela Grazina e Sandra Morais Cardoso
ANTÓNIO PIEDADE *
Existem no interior das células que compõem o nosso organismo uns organelos que são autênticas fábricas de energia: as mitocôndrias.
Precisamos que as mitocôndrias funcionem bem para termos a energia necessária para executar as mais variadas funções, assim como para garantir um bom estado de saúde. Quer isto dizer que se as mitocôndrias existentes num determinado órgão funcionarem mal, não há produção da necessária energia e esse órgão é afectado na sua função, potenciando um estado de doença.
Sabe-se que o mau funcionamento das mitocôndrias de algumas regiões cerebrais está envolvido no desenvolvimento de algumas doenças que afectam o cérebro. No Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) existem vários grupos de investigação de excelência que se dedicam exactamente a estudar o papel das mitocôndrias em várias doenças neurodegenerativas.
Mitocôndria
Testemunho disto são os dois exemplos que a seguir se reportam.
Recentemente, Sandra Morais Cardoso, investigadora do CNC, recebeu o Prémio Janssen Neurociências, no valor de 50 mil euros, pelo trabalho científico que permitiu identificar um novo alvo terapêutico na doença de Parkinson. A investigadora e a sua equipa estudaram as mitocôndrias de células cerebrais (neurónios) de doentes de Parkinson. Mostraram que o mau funcionamento das mitocôndrias compromete o normal funcionamento dos neurónios podendo ocasionar a sua morte.
Um outro grupo de investigação do CNC, este liderado por Manuela Grazina, que é também responsável pelo Laboratório de Bioquímica Genética (laboratório nacional de referência para o diagnóstico e investigação de doenças raras, em particular citopatias mitocondriais) da mesma universidade, está estudar de forma pioneira em Portugal a segunda principal demência mais comum a seguir à de Alzheimer: a Degenerescência Lobar Frontotemporal (Demência Frontotemporal – DFT).
Os primeiros resultados do estudo que envolve 70 doentes seguidos na consulta de Demências, coordenada pela neurologista Isabel Santana, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), revelaram profundas alterações ao nível de componentes moleculares específicos das mitocôndrias em comparação com um grupo controlo constituído por voluntários saudáveis.
A equipa coordenada por Manuela Grazina encontrou evidências bioquímicas da diminuição da actividade bioenergética mitocondrial em doentes com défice cognitivo. De forma simples, podemos dizer que os seus investigadores identificaram a «falha de energia» que pode ajudar a esclarecer os mecanismos envolvidos na doença, ou seja, permite perceber o que é que está errado nas mitocôndrias para, a partir daí, se desenvolverem formas de compensar ou reparar esse erro.
* consultor científico no projecto Ciência na Imprensa Regional / Investigador na Universidade de Coimbra