MÁRIO MARTINS
Foram momentos simples mas profundos, à semelhança do carácter do Cantor. Momentos históricos.
A partir das 12h45 de hoje, os restos mortais da Voz repousam no jazigo destinado aos maiores nomes da Canção de Coimbra.
Fomos 200 os que comparecemos à cerimónia da trasladação da urna, que no dia do funeral encontrara abrigo no jazigo de António Portugal, outro nome enorme do Fado que por cá se toca e canta. Até hoje.
Da Escola Profissional de Teatro de Cascais vieram dois autocarros repletos de jovens que, logo à noite, no Teatro Académico de Gil Vicente, participam no espectáculo evocativo.
Durante a cerimónia ouviram-se dois fados, interpretados pelo grupo Raízes de Coimbra. E houve intervenções de Carlos Carranca (o amigo maior), Paula Goes (a viúva), Ana Goes (a filha) e Manuel Machado (presidente da Câmara). Intervenções marcadas pela emoção. Carranca quase não conseguiu falar, Paula agradeceu em nome do ex-marido e Ana lembrou um amor sofrido.
O jazigo tem espaço para quatro urnas. A meu lado, Jorge Cravo – outro grande – lembrava que aquele é o locar indicado para guardar os restos mortais de Edmundo Bettencourt e Artur Paredes. Concordo, simples admirador do Fado nascido no coração da Coimbra futrica.
Percurso acabado. Despedira-me do Amigo, há dois Verões atrás, à porta da Igreja de Santa Cruz. Reencontrei-o hoje, ao princípio da tarde, como algumas vezes sucedeu por aqui e por ali, nos últimos anos de vida, no Cemitério da Conchada.
E lembrei-me de acrescentar um “post scriptum” à carta que lhe dirigi naquele dia em que partiste. Este: «Olha, Luiz, foi muito digna a trasladação para o jazigo. Simples, como tu. Mas profunda nos sentimentos, no respeito. Na saudade».
O Cantor. A Voz. Também o Poeta. E o Amigo. Todos eles repousam desde hoje no Jazigo n.º 33 do Cemitério da Conchada – o “Jazigo do Fado de Coimbra”. Para já, simplesmente, o jazigo de Luiz Goes.
LIGAÇÕES
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“Carta (póstuma) a Luiz Goes” escrita no dia do funeral