FRANCISCO CALEIRA *
O desporto irlandês está longe de viver a dimensão profissionalizante da realidade portuguesa. A Irlanda é, talvez, um recanto perdido dos ideais de Pierre Coubertin. O râguebi é o desporto, financeiramente falando, mais excêntrico mas, contudo, longe dos ordenados milionários do futebol português. A razão: os desportos mais populares do país são 100% amadores.
Facilmente se pode dizer que a Irlanda não tem no futebol o seu desporto nacional, ou favorito. Bem, não é correcto, mas não é mentira. No topo da lista das preferências desportivas dos irlandeses surgem os despotos gaélicos: o “Hurling” e o futebol gaélico. Sinceramente, não sou grande fã de ver jogar futebol com os pés e as mãos. No entanto, rendi-me ao “Hurling”, um desporto veloz e de emoções fortes devido à inceteza do resultado. O que torna mais interessante estes desportos é o factor 100% amador destas modalidades que, contudo, e podem ficar surpreenidos, enchem estádios.
A recente vitória no Torneio das Seis Nações leva-nos ao desporto mais excêntrico, financeiramente, da Irlanda. O râguebi é, sem dúvida, o desporto rico, e mais profissionalizado, do país, ultrapassando facilmente o Liga irlandesa de futebol (Airtriity League). As equipas provinciais irlandesas venceram seis das 18 edições da Hineken Cup – a Champions League do râguebi europeu – e não é difícil encontrar jogadores provenientes do hemisfério sul nelas. Contudo, apesar do sucesso o râguebi fica longe da popularidade dos desportos gaélicos.
Futebol, bem futebol na Irlanda é um desporto secundário os irlandeses prestam mais atenção à Liga inglesa que ao seu próprio campeonato. Resta uma curiosidade. Existe uma equipa na liga irlandesa que me faz recordar a Académica, é a equipa da University College of Dublin (UCD). Esta equipa é constituída exclusivamente por estudantes daquela universidade, pagos em bolsas de estudo e propinas. Prova que estudar e jogar futebol é compatível. Poderá ser questionado o nível futebolístico e a realidade do campeonato irlandês, mas cada um vive na sua realidade.
Na sua esséncia o desporto irlandês fica financeiramente num patamar muito abaixo do desporto português. Esta realidade não deixa no entanto de ser curiosa se compararmos as medalhas olímpicas conquistadas pelos dois países. A par na prata e no bronze, a Irlanda dá cinco medalhas de avanço no que toca ao ouro. Moral da história nem sempre o dinheiro paga tudo para se ter sucesso no mundo do desporto.