AMÉRICO COUTINHO *
As eleições europeias deixaram indicadores que considero muito preocupantes tanto em Portugal como na Europa.
Em Portugal, a primeira indicação que se pode ler é que ainda não morreu e está de volta a velha tendência para o sebastianismo. Continuamos a pensar que o “salvador” aparecerá numa manhã de nevoeiro…. Essa tendência foi personificada na eleição de Marinho Pinto que é um populista, vendedor de “banha da cobra” mas que nunca se mostrou capaz de fazer algo de útil. Pior que isso quando, na ordem dos advogados teve a possibilidade de se mostrar, foi travão às reformas, envolvendo-se em guerrilhas de jardim escola com a ministra e em nada contribuindo para a melhoria da Justiça em Portugal. Esteve pelo contrário ao serviço dos interesses instalados, dificultando o acesso dos jovens à profissão, não promovendo o mérito mas o compadrio que com grande falácia dizia combater. Dizia com ironia a minha filha mais nova que a sua eleições se ficou a dever aos juristas estagiários que assim se vêem livres dele por cinco anos!
A segunda indicação não menos preocupante, e esta extensível a toda a Europa é uma contradição insanável que precisa de alguma forma ser resolvida sob pena de pura e simplesmente não termos futuro.
Como é que a geração mais bem preparada de sempre faz chegar ao topo da carreira política só os medíocres? Fala-se tanto de Relvas; mas sejamos objectivos: – Passo Coelho tem por acaso um percurso académico ou profissional que lhe permita ocupar um lugar que deveria ser ocupado pelo melhor entre os melhores? E se falarmos de António José Seguro? E mesmo de António Costa?
Mas se nos virarmos para a Europa e para o naipe de políticos que ocupam lugares de topo, tanto nas instituições europeias como nos países temos que concluir que não há muita diferença. O que vemos são burocratas com muita conversa; mas de competência duvidosa.
Onde está hoje alguém que se compare ao sr Jacques Delors? Ou ao sr Helmut Kohl? Quem é e o que já fez na vida, para além das derivas pela extrema direita, o sr. François Hollande?
E depois admiramos-nos que a sra Marine Le Pen e outros propagandistas do género tenham as votações que tiveram?
Temos pela frente, os que ainda acreditam que Portugal e a Europa têm futuro como espaços civilizados de vivência humanista uma tarefa hercúlea a que urge deitar mãos sem demora:- promover e valorizar o mérito e convencer os jovens, esses mesmo, os mais preparados de sempre, que, como dizia o Papa Francisco, a política está suja porque eles ainda não se meteram nela com espírito de missão.