MÁRIO MARTINS
Não, não pode ser verdade.
Decorreu muito tempo. Tantos anos que nasceram filhos e até netos. E ninguém permanece igual depois de ser pai ou mãe, avô ou avó. É impossível.
O Mundo também é outro. Mudou o regime, a sociedade tem regras diferentes.
E a vida despreocupada da juventude, dos 16-18 anos, deu lugar a preocupações várias.
Mudámos nós. Fisicamente, sem dúvida. Por dentro também. Ficámos mais ou menos “duros” consoante as vitórias e as derrotas do percurso, porque ninguém é campeão a vida inteira.
No entanto, na altura do reencontro, 40 anos depois, a frase mais dita, a frase mais escutada, talvez tenha sido o “Tu estás na mesma!”.
Uma frase impossível, porque mudou tudo – as nossas vidas, o Mundo onde vivemos, o nosso aspecto, nós próprios.
“Tu estás na mesma!”.
A frase, pensando melhor, está carregada de verdade.
As palavras é que não foram as mais apropriadas. Porque o que queríamos dizer uns aos outros, tal como elas disseram umas às outras, era outra coisa.
Mas como não apareceram as palavras adequadas, ficámo-nos pelo mais simples “Tu estás na mesma!”.
O que queríamos mesmo dizer era isto: “Passaram-se 40 anos mas continuo a gostar de ti”.
Porque o coração tem razões que o tempo desconhece.