MÁRIO MARTINS *
A selecção portuguesa foi goleada pela Alemanha (4-0) na estreia na fase final do Campeonato do Mundo. Pior do que o resultado, foram as lesões de Hugo Almeida e Fábio Coentrão, a expulsão de Pepe, a aparente “falta de pernas” de vários jogadores portugueses, os laivos de indisciplina e, sobretudo, a imagem de uma equipa descrente, “sem norte”.
Perder com a Alemanha é natural: os alemães estão no 2.º lugar do “ranking” mundial, enquanto os portugueses ocupam a 4.ª posição. Mas perder da forma como Portugal perdeu, na Baía, levanta muitas interrogações sobre o futuro da equipa lusitana. Por um lado, porque a Alemanha chegou com facilidade à goleada. Por outro, porque os tentos dos alemães foram aquilo a que se pode chamar de “golos oferecidos”: João Pereira “fez” metade do primeiro, Pepe “esteve” no segundo, Bruno Alves ficou ligado ao terceiro e André Almeida e Rui Patrício “facilitaram” no quarto.
A selecção portuguesa deu a sensação de não ter encarado o desafio com a responsabilidade que era exigida. O lance caricato de Rui Patrício, logo no início do jogo, que ofereceu a bola a Khedira (que não foi capaz de aproveitar o “brinde” para inaugurar o marcador), só é possível numa equipa desconcentrada: o atraso de Pepe e o pontapé atabalhoado de Patrício são impossíveis numa equipa concentrada, sobretudo porque o encontro estava a começar.
Os alemães aproveitaram este lance para vincar a sua superioridade psicológica e foram à procura da vitória.nE chegaram ao intervalo a vencer por 3-0. Antes, porém, já Portugal renunciara à disputa dos três pontos. Isso sucedeu quando, pouco depois da meia hora, Pepe foi expulso após o lance estúpido em que encostou a cabeça a um adversário. Pepe – que já tinha sido responsável pelo 2.º golo alemão – viu justamente o cartão vermelho e, numa equipa “a sério”, teria escrito assim a despedida da selecção nacional. Depois do episódio com a bandeira espanhola na final da Liga dos Campeões, em pleno Estádio da Luz, a atitude de hoje deveria levar os responsáveis federativos a afastá-lo. Mas não acredito que isso aconteça, olhando exemplos anteriores. João Vieira Pinto, que agrediu um árbitro no “Mundial” da Coreia/Japão, em 2002, é hoje vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol…
Apesar da derrota, nada está perdido em termos de presença da equipa portuguesa na fase final do Brasil. Recorde-se que a Espanha, a campeã em 2010 na África do Sul, começou o torneio com uma derrota frente à Suíça. E chegou ao título, derrotando a mesma Holanda que, há três dias dias, a derrotou por 5-1 no mamo estádio onde Portugal hoje perdeu. O segredo da possível reviravolta estará na forma como Paulo Bento e os jogadores reagirem aos 4-0 alemães.
Dados os acontecimentos deste jogo, o seleccionador português vai ter de fazer mudanças na equipa. E isso poderá ser bom, porque dará a quem for chamado ao “onze” a possibilidade de se afirmar no maior palco do futebol mundial. E esse suplemento de motivação será muito importante para uma equipa que hoje se mostrou apática, pouco crente.
Resta falar de Cristiano Ronaldo e Eder. E escrever que o “capitão” português esteve praticamente ausente deste Alemanha-Portugal. Mesmo em pontapés livres próximos da área, só à terceira tentativa conseguiu incomodar Neuer, guarda-redes alemão que teve uma tarde descansadíssima. E esse pontapé de Cristiano Ronaldo surgiu já depois do minuto 90. Quanto ao antigo jogador da Académica, que começou a jogar no Adémia, recorde-se que há precisamente dois anos ainda ele treinava nos Campos do Bolão, junto à Estação de Coimbra-B. Ontem jogou mais de uma horas, depois de ter sido chamado a substituir o infortunado figueirense Hugo Almeida. A vida, por vezes, dá grandes voltas.
O 4.º golo alemão surgiu após defesa para a frente de Rui Patrício