ANTÓNO B. MARTINS *
O padre Jesus Ramos, pároco da Igreja de S. Bartolomeu e director do jornal diocesano “Correio de Coimbra”, tem sido, vai para alguns anos, o responsável pela saudação, no Largo da Portagem, em Coimbra, à imagem da Santa Rainha Isabel, aquando das Festas em sua honra. Este ano, proferiu uma intervenção dura e muito directa, na certeza de bem interpretar os sentimentos mais sofridos e mais preocupados dos seus irmãos na fé, na vida e na sociedade portuguesa.
Falou, como sempre o tem feito, em nome do Povo de Coimbra. Povo que, na sua esmagadora maioria, acredita e venera a sua Padroeira, exaltando as benfeitorias que, com gentileza, amabilidade e amor ao próximo, a Santa Rainha soube prestar ao seu Povo. Distribuindo bens aos mais pobres, apesar da rigidez do Rei, seu esposo. Eessa Senhora, Mãe e Esposa acabou por deixar exemplos e continua a zelar pela Cidade, pelos seus filhos e pelos seus residentes.
Jesus Ramos – que curiosamente esteve envolvido na minha vida e que, um dia, por “ditos e mexericos” deixei cair na minha prateleira dos “esquecidos” e que não mais reencontrei – merece o meu aplauso, agora, por ter conseguido, de forma franca e aberta, denunciar as falsas promessas e, também, a mediocridade que tem invadido os “palcos“ do poder. Poder que destruiu a esperança que, em Abril de 1974, todos depositaram numa nova era para Portugal.
Passados 40 anos, a miséria é enorme, os anseios são muitos, as amarguras imensas, as alegrias deram lugar aos desesperos, os sorrisos deixaram de brilhar nos nossos corações e as esperanças de vida melhor… afundaram-se em discursos de uma classe política desilustrada, sem cultura, atabalhoada, desviadora de interesses nacionais, vendida, amarrotada intelectualmente, apodrecida de sentidos e analfabeta de conhecimentos.
Jesus Ramos encheu-se de coragem e, em nome do Povo de Coimbra, pregou um sermão aos políticos deste País em crise de identidade, de valores, de ideias, de ideais e de lutas em prol das nossas gentes, pelo menos as mais indefesas e as de minguadas carteiras.
Jesus Ramos deixou palavras muito críticas, muito severas, muito assertivas e muito contundentes aos mandatários do poder. Vestiu a sotaina de pároco da gente mais humilde e simples, aquela que todos os dias sofre e tem de penar, e colocou dedos nas feridas que infectam a sociedade portuguesa. Suplicou, em nome do seu Povo, como Homem e como Cidadão – mas, e mais sublimemente, como Padre – por mais justiça, mais dignidade e mais trabalho sério e sem corrupções dos que, em Lisboa, têm desbaratado milhões e empobrecido a Nação.
Quero agradecer-lhe, em meu nome e – penso – de todos que o escutaram e, também, dos que não estiveram presentes na cerimónia, a forma sem freio como soube colocar os problemas da nossa gente e como apelou para a sua solução.
Qualquer padre deve ser um veículo de tudo quanto Jesus Ramos conseguiu denunciar, porque é voz de um Deus bom que reclama por justiça social, mais distribuição da riqueza, mais amor aos infelizes e aclama a dignidade humana.
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