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Louvor a Coimbra

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(Foto: HELENA PRATA)

 

VASCO FRANCISCO *

 

Não sei se quem lê estas frases as entende como de um relato se tratasse, de uma prosa que se estende no papel convencendo o leitor a ler até ao fim. Palavras desenhadas a preceito, para descrever a cidade mais antiga de Portugal a seguir a Braga.

Coimbra – esta cidade que acorda serena e silenciosa e que adormece boémia e apaixonada. Quantas palavras seriam precisas para descrever esta cidade que em tempos foi capital do reino… A verdade é que não as há.

A saudade já vem desses tempos (Aeminium, como lhe chamaram os romanos) e não esquece aqueles que fizeram de si o seu berço de nascimento e glória, D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Afonso II, entre outros que por cá nasceram. As muralhas da cidade ainda se fortificam quando ouvem os nomes de D. Dinis e de D. Pedro, os reis mais admirados na história da cidade. O tempo passou e da 1.ª dinastia apenas ficaram os símbolos e a história. As margens do Mondego unem-se numa só, como se o rio fosse uma aliança entre elas. O Mondego corre calmo e majestoso, as lágrimas de Inês e de outros tantos que por aqui choraram de alegria e de tristeza cruzam o leito que as leva até à foz. A foz que diz à Serra da Estrela que o Mondego está entregue ao mar. Quantas barcas o beijaram desde Penacova à Figueira da Foz, quando foi uma das mais importantes vias fluviais de Portugal, onde se desenlaçaram tragédias e emoções. Hoje só vejo uma barca perdida sem que à sirga a puxem para uma viagem nas águas de um rio tão português. Este rio que em tempos foi tão irregular, cheia no Inverno, areal no Verão. Hoje é rio todo o ano e todo o ano é do Bazófias.

Coimbra, inspiração de poetas, músicos e pintores, homens e mulheres que desta cidade fizeram arte. Num poema gravaram a saudade, numa tela esboçaram a beleza, num fado cantaram a alma. Quantos nomes a imploraram para sua inspiração, Miguel Torga, António Nobre, Zeca Afonso, Luís Goes, Camões, tantas almas a abraçaram, todas recebidas no mesmo abraço. Um abraço acolhedor e tão característico.

As capas negras vestem uma cidade que não tem vergonha em mostrar a sua nudez, a beleza é fruto da natureza e do homem desde o Penedo da Saudade a Santa Clara. As lágrimas de Inês rebatem no coração dos amores desta cidade, desde o velho amor de uma tricana com um estudante até aos amores atuais que levam Coimbra como cenário.

O trinar de uma guitarra desperta os estudantes e os doutores, que na cidade dos amores aprendem a ver e a sentir uma cidade que da velha Torre faz ícone, que do badalar da Cabra faz seu símbolo humorístico e tem como postal mais famoso o Pátio das Escolas. Os rouxinóis convidam a ir ao Choupal, mas algo leva a descer mais perto. Respirando o ar puro do Botânico chega-se à Sé Velha que se veste de negro todos os anos. E ainda hoje as pedras morenas da Sé aclamam a nostalgia.

O aroma de uma cidade sente-se na doçaria, esta que imortaliza as monjas de Santa Clara. As pedras de Santa Cruz formam um cenário tão português, Almedina e Quebra Costas cantam o fado que se faz ouvir à Portagem, de onde se contempla uma das mais bonitas paisagens da Lusa Atenas.

Coimbra, viveiro de amores onde ainda se cheira um perfume celestial. Uma pétala escorrega do regaço e a lenda ainda é a mesma “São Rosas, Senhor!”. E eis que uma coberta se estende numa varanda e assim se anuncia uma procissão, um cortejo real, vai passar a Rainha Santa, e o povo comparece para a venerar.

Os salgueirais do Mondego debruçam-se nas águas que Camões exaltou, águas que encerram histórias de um rio e de uma cidade. Coimbra que se embala numa balada minha e tua. Terra onde o Sol e a Lua refletem mais brilho e mais beleza ao que foi, permanece e continuará a ser esta cidade.

Mais palavras, para quê? Não há palavras que cheguem nem dias que se reservem para descrever uma cidade onde se mudam os tempos e as vontades, mas há sempre algo que fica, algo que se mantém a imortalizar o passado, a alma e a genuinidade.

“Coimbra terra de encanto,
Fundo mistério é o seu,
Chega a ter saudades dela,
Quem nunca nela viveu.”

Coimbra, 10 de Julho de 2014

* aluno finalista do Ensino Secundário. Colaborador permanente do COIMBRA JORNAL

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