Quero saudar Vossa Santidade e fazer votos para que o seu Pontificado seja a Luz para os caminhos da Fé e que seja a Benção para todos os desígnios que o motivam a transformar a sua acção Pastoral e dar uma nova Vida à Igreja Católica.
Tento seguir os seus passos, ouvir as suas palavras, acolher os seus conselhos e perceber as suas mensagens. Regozijo-me com a sua bondade, a sua aceitação dos outros, a sua compreensão pelos outros, a sua brandura de posições, a sua esclarecida forma de entender o nosso Deus, a sua amabilidade para com as pessoas e o seu AMOR por tanta gente que, neste Mundo, sofre as maiores agruras com as mais variadas “mutilações” – intelectuais, pessoais, humanas, da própria consciência , sexuais, de personalidade, de Ser, de Cidadania, de Homens e Mulheres, de crianças, de jovens, de adolescentes e de idosos…
Sua Santidade é, pela forma de comunicar – linguagem simples, palavras esclarecedoras, discursos imbuídos no e do realismo da vida, metáforas, gestos, expressões e voz com sonoridade que prende – um exemplo de como se deve usar toda a nossa “força” interior e as capacidades exteriores para se deixar a semente.
Percebo quão difícil será ser o Pastor de um rebanho de muitos milhões, cada um dos quais com o seu “feitio”, com os seus problemas, com a sua personalidade, com os seus anseios, com as suas características humanas, com os seus defeitos, com as suas virtudes, com os seus egoísmos, com as suas invejas, com as suas inquietações de fé e com a sua mentalidade, alicerçadas nos próprios, nas sociedades de vivência, nas famílias, nas comunidades católicas e um pouco por todos os lados, donde cada um é natural, reside, trabalho ou, apenas, passa o seu tempo…
Entendo, perfeitamente, quanto deve ser penoso lidar com alguns Cardeais, Bispos e Padres que, por falta de jeito, de humildade, de vocação, de coração, de afectividades, de amor e de simplicidade não servem a Igreja a que juraram ser fiéis nem tão pouco sabem dar testemunhos de um Deus que, acima de tudo, tende para o perdão e para a todos AMAR, mesmo os que a própria Igreja pretende espezinhar como se o tempo da Santa Inquisição ainda reinasse no miolo da nossa religião, a Católica.
A sua tarefa, Santo Padre, é de extrema responsabilidade, de incomensurável entrega e de uma hérculea exigência.
Mudar o sistema que vigora na Igreja, pós Concílio Vaticano II, uma das maiores e mais sublimes “revoluções” operadas por um Papa, João XXIII, que sabia sorrir e soube transfigurar a Instituição de que foi líder, não se posiciona como uma missão que possa ser executada sem planificação, sem alinhamentos, sem audições, sem análises, sem avaliações, sem estudos, sem visitas e sem muita reflexão.
A Igreja, a nossa, tem conhecido, nos últimos tempos, apesar da bondade e da abertura que lhe foi cometida por João Paulo II, um conjunto de solavancos – muitos dos quais são consequência de ser servida por homens, de carne e osso – que a fazem esboroar e a vão carcomendo, o que a tem tornado num cepo de algumas “marradas”. Também precisamos de uma catequese mais sã, mais inovadora e mais modernaça, mas não a que nos apresente um Deus “castigador”, insensível, austero, severo e desprovido de saber perdoar. Queremos teologia – Bento XVI subiu a fasquia, colocando-a acima das possibilidades intelectuais da grande maioria dos católicos, além de que estava desfasado deste tempo que está cravado de incertezas e contaminado de muitas facilidades, mas que tem de ter, na Igreja, a “bengala” da sua segurança espiritual e terrena – para melhor realizarmos a nossa “sina” de filhos de Deus, na entrega e na ajuda aos que sofrem e a quantos procuram o AMOR desse espírito da força e da luz… Queremos doutrina, mas com credo e palavras de bem-fazer, de bondade, de tolerância, de humildade e de teoria com práticas…
Tenho para mim que, e perdoe-me Sua Santidade o que digo, a Igreja Católica, apesar de ter e ser a consciência crítica de muita coisa que tratamos sem tino e sem clarividência, antes ao sabor das correntes de cada época que se passeiam pelas sociedades de ontem e de hoje, deveria assumir-se mais capaz de assumir a época da vigência – sem colocar o pé em falso ou negar uma ou outra preposição que comanda a vida e lhe dá sentido – para acompanhar os tempos, alguns dos novos conceitos, esta e aquela descoberta, as situações desagradáveis que molestam as pessoas, as dificuldades intrínsecas do Homem, as vicissitudes deste início de século desenfreado por corrupções, para desmontar os maldizeres de gente da nossa gente, para denunciar as abastanças de alguma cúria e analisar os desafios que os jovens, de uma actualidade com outros contextos, sentem e pressentem…
Nunca foi tão sério e actual voltar a falar-se de Reevangilizar a Europa e os Países que estão num paradigma de progresso, porque o ter atropelou o ser… atirando para as valetas da pobreza muitos dos que estiveram na génese desse desenvolvimento.
O dinheiro tudo compra, afrontando a dignidade do ser humano, a sua consciência, a sua ética e a sua deontologia pessoal e profissional.
A Igreja, aqui e ali, porque humanamente servida por filhos dos homens, tem sido agastada e molestada por crises de testemunho e de exemplo, deixando de ser reconhecida como uma Instituição de boas práticas e de aceitáveis princípios. Mas, as mais das vezes, a sociedade e uma parte dos homens que a compõem, esquecem-se que são Instituições e Organismos da Igreja, como a Cáritas, que matam a fome e apoiam a vida de muitas crianças e idosos, além de abrirem os braços a enfermos e a presos, em pastorais que se espalham por todos os cantos do Mundo, com mais enlevo em África, na América do Sul e nos Orientes.
Deixando-se enlear por palavras de “falsos profetas” e de duvidáveis servidores, com consciências muito pesadas, a nossa Igreja já deveria ter permitido o casamento dos Padres para que não se multiplicassem os escândalos que abalam comunidades paroquiais e para que os boatos deixassem de minar a credibilidade da Igreja. Todos somos Homens e filhos de Deus, com as nossas virtudes e as nossas quedas, mas a Igreja não pode deixar de saber estar presente, junto dos seus irmãos, com gente – principalmente padres – que possa, por experiência de vida, perceber o que é viver em família, ter filhos e carrear a vivência de um lar.
A Igreja, em tempos de minguadas finanças, tem se deixar de sumptuosos Seminários e Residências Episcopais que custam fortunas a cada Diocese, só para que este ou aquele Reitor ou Bispo se esgote no interior dos salões de uma e de outra estrutura, desperdiçando o contacto directo e personalizado com os seus fiéis. É preciso ouvi-los, atendê-los, considera-los, respeitá-los e dar-lhes atenção. É preciso sulcar o terreno, caminhar ao lado do Povo, visitar lugares escuros e fétidos, carregar a Cruz, suportar as palavras de blasfémias atrevidas, afagar os que padecem nas prisões ou nos hospitais, acariciar os menos aventurados, beijar os pobres, ajeitar os abandonados e confortar algumas turmas dos mais escarnecidos, como as prostitutas, os sidosos, os drogados e tantos outros.
A Igreja e todos quantos a servem, de que Sua Santidade tem sido um dos exemplos mais dignos e fervorosos, tem de estar atenta aos sinais dos tempos, às escrituras mas interpretando-as com sentido e verdade, às mensagens do nosso Deus, aos testemunhos da presença do seu filho Jesus, às palavras e vida de muitos dos nossos Santos e, também, aos gritos dos que vão morrendo, sacrificando-se ao e pelo Amor dos outros…
Santo Padre, que a nossa e sua Igreja seja e possa ser, no futuro, na fé e com muita fé, um chamamento a quem busca perdão para alguns dos seus actos, a quem clama por justiça, a quem grita para suplicar mais compreensões, a quem chora para ser mais aceite pela nossa Igreja que deve assumir um papel de reconciliação a favor de outros menos poderosos, a quem se envergonha por não ter o pão nosso de cada dia, a quem se verga ao peso dos desmandos de caciques da dignidade humana, a quem recebe ordens que esmagam alguns dos nossos seres, a quem repudia escravidão, a quem se manifesta por mais e melhor vida, a quem tem o estigma dos rótulos que lhe colaram, a quem morre moribundo, a quem se tenta recolher no templo para fugir do frio e da chuva, a quem se arrasta pelo chão para ganhar o dia-a-dia e a quantos sofrem os males de um Mundo cada vez mais incompreensivo, intolerante, frio, desumano e plastificado…
A presente barbárie de um pertenço califado do Islão, que mata, que esfola, que maltrata, que indigna, que subjuga, que mortifica, que faz vergar, que apoquenta e que tem feito “gato sapato” de tantos irmãos – dos próprios – e de outras religiões, apenas podemos considerá-los como carniceiros que, em vão, suplicam o nome de Alá. Como se Alá fosse um deus menor ou um Deus da guerra; ou como se existe, como essa turma de sanguinários proclama, uma “guerra santa”. Que intolerâncias, que diabólicas mentes e que desgraçados seres esses que tiram a vida a quem deve e quer viver, em paz e no amor ao seu Deus… Peçamos para eles o perdão do ALTO, o Deus de todos…
Que a Paz do seu espírito, Sumo Pontífice, lhe conceda a vidência, a sabedoria, a mestria e a inteligência para encaminhar esta Igreja de Cristo para os caminhos da Paz e da Luz, com o sentimento de se ajudar cada Homem a crescer em dignidade e em Vida.
Estou crente que saberá prosseguir, apesar de um ou de outro vento que o pretende derrubar, com a sua vontade férrea de construir uma Igreja mais próxima de cada um de nós, mais humilde, mais simples e mais apostada no Bem a favor de todos e de cada um de nós.
O seu passado, num país do Sul da América, a Argentina, também ele sofrido e cheio de extremos de Vidas, deu a Sua Santidade, a experiência e o saber suficiente para, agora, nesse “posto” de grande visibilidade, contribuir para o renascer de um Homem novo e de um Mundo melhor, em que o SER tome conta de mim, deste e daquele ou daqueloutro para que a felicidade cresça e possa florir, humanizando tudo e todos.
Vou orar por Sua Santidade, pedindo para que Deus o ajude a ultrapassar tanta adversidade, tanta incompreensão e tanta malquerença, porque bendito Papa Francisco: precisamos do seu jeito de ser, da sua transparência, das suas palavras, das suas reflexões, das suas práticas de vida e dos seus testemunhos de homem e de pessoa fadado para operar mudanças nas terras do Mundo e na nossa Igreja que precisa de ser mais perdão mas, e também, mais vida…
António Barreiros Martins (*) Portugal, 14/02/2015
(*) colaborador permanente do COIMBRA JORNAL