Ronaldo: alma portuguesa a chorar

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Ronaldo, o menino pobre dos arredores do Funchal, está hoje nas primeiras páginas de jornais de todo o Mundo. A chorar.

Longe vão os tempos em que se sentia emigrante em Lisboa, gozado por ter um cerrado sotaque madeirense. E em que, depois do jantar, pegava na bola e ia treinar nos jardins de Lisboa, sozinho, a fintar canteiros de flores, bancos de pedra e árvores de que não sabia o nome. E em que todos os dias chorava com saudades de casa, com saudades da ilha. Ou os fins de tarde intermináveis em que ficava no relvado a tentar descobrir a melhor maneira de acertar na baliza. Remata, ia buscar a bola, voltava a rematar, voltava a ir buscar a bola. Vezes sem conta. Sozinho.

Eram 7 da manhã. Ronaldo entrou na área de serviço de Alcochete e o miúdo que ia a caminho do Algarve pediu-lhe um autógrafo. O jogador, simpático, acedeu, rubricou o guardanapo de papel e afagou-lhe a cabeça. Humilde, apesar de nessa altura já ser jogador de 1.ª página.

Ronaldo emigrou como tantos outros madeirenses. Inglaterra, Espanha. Levou com ele a vontade de ser o melhor. Impôs-se, superou as dificuldades naturais e alguma “má vontade” que ele sente, por vezes, estar à sua volta. Cerrou os dentes. Triunfou.

Ontem, ao receber o prémio para o melhor jogador de futebol do Mundo, não resistiu. As palavras saíram soluçadas, a língua entaremelou-se e as lágrimas rolaram cara abaixo. E o auditório de Munique aplaudiu, como aplaudiram os clientes do café do Calhabé, até aqueles que aguardavam de pé pelo momento decisivo.

Foram lágrimas de muitos sabores. Lágrimas de felicidade misturada com raiva, lágrimas de afirmação misturada com saudade. Porque este Ronaldo multimilionário continua a ser o menino pobre da Madeira, o emigrante precoce, o sobredotado que tem de ser muito melhor do que os outros para ser reconhecido como o melhor, o português que um dia olhou para dentro de si e decidiu que queria conquistar o Mundo.

Ontem, não chorou apenas o jogador de futebol. Sentiu-se, viu-se!, a alma que transportamos há 900 anos a chorar. Porque as lágrimas de Ronaldo eram lágrimas de Portugal.

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